Em 3 de abril de 2018, um dia antes de o Supremo Tribunal Federal negar um habeas corpus que pouparia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 580 dias de cadeia, o Exército resolveu falar do caso.
Na forma de postagem no Twitter do então comandante Eduardo Villas Bôas, a Força admoestou a corte sobre riscos à estabilidade institucional caso livrasse o líder petista, alvo mais graúdo da Lava Jato, da prisão que o esperava.
“ Asseguro à nação que o Exército brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia”, foi o texto descabido levado a público.
Nada estava dito com todas as letras, mas o recado era claro. O próprio general confirmaria, em entrevista à Folha no fim daquele ano, que tinha agido no limite da responsabilidade institucional.
O episódio voltou à tona com novas nuances, por iniciativa do próprio militar, com a publicação de um registro de história oral por parte do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas. Nele, VB, como o general é conhecido, não fica nada bem.
Ele repete a argumentação de 2018, segundo a qual não havia ameaça, e sim alerta pelo que considerava risco de agitação golpista por parte da população caso Lula fosse mantido livre.
O relato se adensa quando o general sugere que o temor era o da volta da esquerda ao poder. Lula, porém, estaria inelegível —como segue hoje, mesmo fora do cárcere.
Também é reveladora do quadro de então a descrição sobre como os fardados se entusiasmaram com a ascensão da candidatura presidencial do capitão reformado Jair Bolsonaro, até então mal visto devido a seu histórico de indisciplina.
Mais perturbador é saber que integrantes da atual cúpula da República participaram da discussão sobre tal nota na qualidade de membros do Alto-Comando do Exército —e que o teor inicial da mensagem era ainda mais duro.
Não que isso denote pendores golpistas. Tudo indica que a manifestação de Villas Bôas ficou circunscrita àquele episódio, apesar das idas e vindas de militares durante a crise institucional ensaiada por Bolsonaro ao longo de 2020.
O próprio general busca apaziguar espíritos ao dizer que respeitaria qualquer resultado da eleição. Nesse caso, mesmo o que é óbvio ululante precisa ser reiterado.
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