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O que a Folha pensa

E o Taleban venceu

Biden, pragmático, assume derrota no Afeganistão, após mais longa guerra dos EUA

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Tropas americanas no Afeganistão - Patrick Baz - 21.fev.10/AFP

Em setembro de 2001, o mundo assistiu horrorizado a aviões comerciais serem usados como armas em ataques aos EUA —que inauguraram uma pequena era do novo século chamada guerra ao terror.

Naquele ano, os americanos atacaram o Afeganistão, país remoto governado por um grupo fundamentalista, o Taleban, criador de um regime aberrante que emulava o califado islâmico medieval.

Os talebans eram anfitriões de Osama bin Laden e sua rede terrorista Al Qaeda, responsável pelos ataques do 11 de Setembro. Foram punidos “manu militari”, e passaram as duas décadas seguintes lutando contra os estrangeiros ocupantes e seus aliados locais.

“Nosso objetivo era claro. A causa, justa. Nós cumprimos aquele objetivo.” Com essas palavras o presidente Joe Biden tentou edulcorar o anúncio da retirada de tropas americanas do país asiático.

A lógica desfiada, se não houver recuo, quebra uma tradição intervencionista. “Quando seria o momento certo de sair? Mais um, dois, dez anos?”, questionou, sempre ressaltando a bravura dos 2.448 soldados americanos mortos no país.

Não houve palavra sobre os cerca de 170 mil afegãos mortos, segundo conta da Universidade Brown.

O democrata tem argumentos amparados em pragmatismo. Qual o sentido de os EUA e aliados manterem soldados numa guerra que consumiu US$ 2,26 trilhões, já que a rede de Osama sumiu, seu líder foi morto e não há ameaça ao território americano por lá?

Biden não citou a palavra óbvia: derrota. Ao fim, o Taleban venceu, e o tratado para negociar a paz é convite para mais violência, até porque os EUA ficarão até setembro, e não maio, como previsto.

Sendo otimista, o acordo costurado na gestão Donald Trump tornará o Taleban um ator político. Mas a história do país, que depois de expulsar britânicos e soviéticos adicionou americanos à sua mística de “cemitério de impérios”, não é muito gentil com otimistas.

A forte presença de China e Rússia, além do peso do Paquistão que ajudou a criar o Taleban, podem garantir que não haja algo como a guerra civil que sucedeu a retirada da União Soviética, em 1989.

Mas o risco é evidente, para não falar nos retrocessos que um novo regime dominado pelo Taleban imporia a mulheres, só para começar.

Para Biden, isso é problema dos afegãos, pelo menos até algum radical escondido no Hindu Kush decidir explodir algo no Ocidente.

editoriais@grupofolha.com.br

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