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Paulo Egydio

Covid-19: o impacto oculto na sexualidade

Alertas não devem ser ignorados, inclusive para o planejamento da saúde pública

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Paulo Egydio

Urologista e andrologista com doutorado na USP, desde 1997 se dedica ao estudo e ao tratamento da curvatura peniana e do implante de prótese, sendo especialista no campo da cirurgia urogenital

Os efeitos do novo oronavírus estão na economia, na política e no comportamento social. Num cenário de incertezas, não há ser humano heroico. E, neste momento, realidades específicas estão vindo à tona. Por exemplo, os impactos da Covid-19 na saúde sexual.

A Organização Mundial de Saúde considera a sexualidade como um aspecto essencial na qualidade de vida de todo ser humano e, em diversos países, os cuidados com a sexualidade e a reprodução, no contexto da Sars-CoV-2, têm sido objeto de manuais e de diretrizes para a população e os profissionais de saúde.

Paulo Egydio - Urologista e andrologista com doutorado na USP, desde 1997 se dedica ao estudo e ao tratamento da curvatura peniana e do implante de prótese, sendo especialista no campo da cirurgia urogenital
O urologista e andrologista Paulo Egydio - Divulgação

Uma consequência já detectada é a possibilidade de homens que tiveram Covid-19 apresentarem disfunção sexual, mesmo após se curarem do vírus. Duas pesquisas indicaram que o coronavírus pode deixar sequelas na sexualidade.

Um estudo coordenado pelo Departamento de Urologia do Hospital Quirón Salud Juan Bravo, em Madrid, e uma pesquisa da Universidade de Roma Tor Vergata, com 7.000 pessoas, em 2020, mostraram que a infecção pelo coronavírus pode causar impotência.

Ambos trabalhos ressaltam que fatores psicológicos, sociais e biológicos devem ser investigados mais profundamente antes de conclusões, mas os relatos sobre as dificuldades já estão sendo ouvidos no consultório.

O impacto do coronavírus na saúde sexual masculina decorre principalmente de problemas circulatórios. A irrigação adequada de sangue é que torna o pênis rígido. E os processos inflamatórios da Covid-19 comprometem a circulação. Existem ainda relatos de lesões no pênis em pacientes que ficaram muitos dias de bruços durante a internação.

A Covid-19 impacta também a vida sexual dos jovens, uma vez que o desenvolvimento saudável da sexualidade enfrenta as restrições impostas pelas políticas de combate à doença. O excesso de pornografia, em especial de "animes", tem provocado efeitos psicológicos e físicos aos "heavy users", que muitas vezes projetam desempenhos e formatos irreais. A desumanização dos atos também tem alto potencial de comprometer as relações sociais e afetivas no futuro.

É importante também apontar uma vertente com grande potencial de aumentar ainda mais os problemas sexuais na pandemia: o consumo de antidepressivos. De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, no ano passado houve um crescimento de quase 20% na venda desses produtos. Tanto homens quanto mulheres podem apresentar falta de desejo e das funções orgástica e ejaculatória em decorrência de alguns estabilizadores de humor, provocando um efeito cascata de frustração, afastamento das relações e isolamento pessoal.

É relevante constatar que as enfermidades crônicas que apresentam fator de risco para a Covid-19, nos homens, são as mesmas relacionadas à disfunção erétil, como cardiopatias, diabetes e doenças vasculares.

Por fim, é importante que se diga que uma falha não significa nada. Não existe uma média exata, mas, se em cada cinco tentativas de relação, três não se realizam, aí sim, há indícios de problema. Importante frisar que ereções involuntárias, noturnas e matinais, indicam que a parte orgânica está boa. Apenas a investigação médica indicará o diagnóstico para cada caso, se for o caso.

A sexualidade é um aspecto essencial na qualidade de vida de todo ser humano. “É dimensão fundamental em tudo o que somos, sentimos e fazemos”, expressa a Organização Mundial da Saúde.

A Covid-19 é uma crise sistêmica. Os reflexos sobre a sexualidade —os riscos atuais e as consequências adversas do vírus— acendem alertas que não devem ser ignorados, inclusive do ponto de vista de planejamento de saúde pública.

Em uma conferência, em 1932, quando Freud falava sobre a energia sexual, tratar de sexo, à época, era um assunto polêmico e impróprio. É preciso que hoje o tema seja visto como parte fundamental da saúde física e mental.

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