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Tem jeito

Convicção nacional sobre chances do país encontra amparo na experiência global

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Substituição da bandeira nacional instalada na praça dos Três Poderes, em Brasília - Raul Spinassé/Folhapress

A uma pergunta simples e direta —o Brasil tem jeito?— formulada pelo Datafolha, 90% dos brasileiros responderam afirmativamente, um percentual que pode parecer surpreendente.

Afinal, o país se tornou mais pobre nos últimos dez anos, com queda de sua renda média por habitante, e desde os protestos populares de 2013 tem mostrado elevado grau de descontentamento com seus governantes. Neste momento, vive o impacto devastador da pandemia em meio a grave desemprego e alta da inflação dos alimentos.

“Ter jeito” decerto significa coisas diferentes para os entrevistados, conforme suas crenças, preferências e ambições. As convicções muito provavelmente seriam menores se a questão apresentasse alguma meta específica e um prazo para seu cumprimento.

Há tentativas de aferir de modo objetivo o sucesso e o progresso dos países, nenhuma delas plenamente satisfatória. Uma das mais conhecidas é o Índice de Desenvolvimento Humano, calculado pela ONU a partir dos indicadores principais de riqueza material, escolaridade e expectativa de vida.

Nessa medida, o Brasil apresenta o 84º melhor desempenho entre 189 países e lenta melhora nas últimas décadas. Seu IDH de 0,765 (numa escala de 0 a 1) o coloca em uma espécie de classe média alta global, o que dá argumentos aos que preferem ver o copo meio cheio.

Trata-se, contudo, de um índice questionável e incompleto. Seus autores, não por acaso, buscam incorporar ao cálculo elementos como a desigualdade social e a situação ambiental —como poderiam levar em conta a segurança pública ou as liberdades democráticas.

A farta literatura sobre o desenvolvimento das nações tampouco dispõe de muitas certezas. Pode-se dizer, no entanto, que o Brasil serve de exemplo nos estudos sobre as muitas dificuldades envolvidas em deixar o grupo da renda média e ingressar no mundo rico —e esse é o copo meio vazio.

A história demonstra, de todo modo, que não existe fatalismo na evolução dos países. Uns avançam mais rapidamente que os demais, como no caso recente da Coreia do Sul, alguns entram em declínio relativo, como a Argentina, outros colapsam, como a Venezuela.

Perdoe-se o truísmo, tudo depende das escolhas de cada sociedade e, também, de alguma sorte. A resposta dos brasileiros, pois, está correta, o que não significa que o Brasil esteja fadado a dar certo.

editoriais@grupofolha.com.br

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