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Paulo Martins

Nosso setembro é agora

Comunidade da USP se une contra o suicídio

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Paulo Martins

Professor de letras clássicas e diretor da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - Universidade de São Paulo); é autor de 'Imagem e Poder' (Edusp), entre outros

Na universidade, entre as crises potencializadas e catalisadas pela pandemia, o suicídio é uma questão sobre a qual o debate não pode ser adiado ou calado.

Na verdade, o suicídio não é algo peculiar de um determinado ambiente ou país. Discussões sobre o tema nas universidades quase que sazonalmente retornam e ganham destaque importante na comunidade acadêmica e na sociedade. Assim, por exemplo, aconteceu na USP em 2017 e em 2018 na UnB.

Hoje é a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP que, em poucos meses, perdeu três alunos. Três famílias foram ceifadas de um filho ou uma filha. Amigos, professores e a instituição se questionam, e querem saber o que poderia ter sido feito.

Há despreparo em descobrir quando isso pode acontecer, como abordar a pessoa em sofrimento e como e para onde encaminhá-la. Fato é que as causas de suicídio são várias, complexas e diversas entre si. Entretanto, quando se tem uma constante, devemos ficar em alerta.

A FFLCH é essa constante, portanto tem de transigir, tem de tentar pôr fim à crise. O acolhimento, no que se refere ao contato, à aproximação, à atenção, à solidariedade e à generosidade, é deficitário entre nós.

Isso não significa que não invistamos em políticas de permanência. Contudo, nos falta uma ação conjunta, comunitária e solidária em favor do próximo. Uma rede de pessoas que abrace os que sofrem. Algo que não seja apenas um número, mas uma condição necessária a ser aderida por todos. E isso deve transcender o ambiente da universidade.

Nosso desafio é enorme. Somos a maior unidade da USP: temos 12.600 alunos. Se a estimativa é de que 5,8% dos brasileiros estão diagnosticados para casos de depressão, segundo a OMS, nós teríamos na FFLCH cerca de 730 jovens em situação de sofrimento, excluindo-se funcionários e professores. Devemos atendê-los, os alunos, preferencial e rapidamente.

Para enfrentar esta crise, criamos na FFLCH um grupo de emergência com um largo espectro da comunidade da USP: estudantes, funcionários, professores, psicólogos, pedagogos, psicanalistas, médicos, sanitaristas, sindicalistas, ativistas.

Ações foram propostas: a elaboração de uma cartilha sobre a questão; a criação de um canal de comunicação direta; a implementação de um projeto de tutoria; a criação de um grupo de acompanhamento dos moradores do Conjunto Residencial da USP (Crusp); pesquisa de avaliação sobre saúde mental; expansão das ações de permanência e a organização de rodas de conversa online.

Crise é uma palavra associada a momentos complexos e negativos que urgem de resolução. Contudo, se observarmos sua etimologia, deriva do grego krino, cujos significados podem ser: “distinguir”, “separar”, “decidir” e “julgar”, o que nos impõem o sentido positivo do termo cognato “krisis” (crise): o momento de decisão, de discernimento, de separar o joio do trigo.

E assim devemos entender esse momento como um ponto de partida para que não tenhamos mais dias tão tristes, fazendo perdurar por todo o ano o setembro amarelo, a campanha brasileira de prevenção ao suicídio.

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