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Avanço da variante delta na China testa tolerância zero e propaganda do regime

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Profissionais da área médica lidam com o coronavírus em Wuhan, na China - Reuters

Berço da pandemia, a China notabilizou-se por uma política de tolerância zero no combate ao Sars-CoV-2. O sucesso do país, que registrou pouco mais de 93 mil casos e 4.600 mortes pela Covid-19, transformou-se em uma arma política.

“A julgar como essa pandemia é manejada por diferentes lideranças e sistemas políticos ao redor do mundo, podemos ver quem se saiu melhor”, disse o presidente Xi Jinping no começo deste ano.

Críticos apontam a evidente falta de transparência chinesa para contestar os dados, além de lembrar que é mais fácil ser draconiano em uma ditadura comunista.

O trunfo chinês, entretanto, está sob teste agora, com o avanço da altamente transmissível variante delta do vírus pelo país.

Ela chegou, segundo o eficaz sistema nacional de monitoramento, em um avião russo que pousou no dia 20 de julho em Nanjing. De lá para cá, cerca de 500 pessoas ficaram doentes em 18 das 31 províncias chinesas. Tal espraiamento gerou pânico entre as autoridades.

Ato contínuo, milhões de cidadãos foram novamente submetidos a lockdowns, restrições a viagens domésticas foram impostas e a capital, Pequim, está virtualmente isolada e com novas proibições.

Para o padrão da mortandade brasileira, soa utópico. Wuhan, o epicentro da pandemia, vai testar todos os seus 11 milhões de habitantes porque descobriu 7 casos.

A reação parece funcionar, e nesta quinta (5) registrou-se o menor número de infecções em uma semana. Oficialmente, ninguém morreu até aqui, o que evoca também o efeito da campanha maciça de vacinação em curso: já foi aplicado 1,7 bilhão de doses, num universo de 1,4 bilhão de chineses.

Mas a pressão está colocada, e economistas e infectologistas do país discretamente começam a questionar a tolerância zero —a começar pelo debate acerca de quanto tempo mais a população aguentará o regime de restrições.

Há o aspecto econômico. Estima-se que a nova onda de lockdowns possa tirar quase um ponto dos 9% de crescimento projetado para o país neste ano.

É um desafio mundial, como se vê no Brasil agora. Outras nações, como o Reino Unido e Singapura, têm apostado na convivência inevitável com o novo coronavírus.

A China está longe disso, até para manter sua posição política ante a suposta lassidão do Ocidente rival, porém a delta ignora colorações ideológicas em sua marcha.

editoriais@grupofolha.com.br

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