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Prioridades vacinais

3ª dose deve focar muito idoso e vulnerável; é crucial dar 2ª a todos os adultos

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Fila para vacinação em São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Há indícios consideráveis de que as vacinas contra a Covid-19 perdem um pouco de sua eficácia depois de alguns meses de aplicação completa e diante de infecções pela variante delta do coronavírus.

Além do mais, elas oferecem proteção abaixo da média para pessoas de idade avançada ou com sistema imunológico frágil por outro motivo. Essas evidências, ainda preliminares, levaram autoridades de países ricos, e agora também do Brasil, a anunciar programas de injeções de reforço.

Os primeiros estudos, analogias e experiência sugerem que a medida pode salvar vidas. O que é motivo de grande polêmica é a conveniência de fortalecer em massa e desde logo a vacinação de pessoas já totalmente imunizadas.

Para a Organização Mundial de Saúde, aplicar injeções de reforço enquanto a epidemia se dissemina entre populações quase inteiramente desprotegidas é não apenas imoral, mas um equívoco sanitário.

Por essa visão, o vírus continuaria a se disseminar sem freio, o que propicia o espalhamento contínuo da doença pelo mundo, talvez em variantes mais perigosas.

O argumento da OMS em certa medida se aplica ao Brasil. A oferta de imunizantes no país ainda é limitada e disputada pela população adulta, vítima mais frequente do vírus, por adolescentes e, em breve, por aqueles autorizados a receber uma proteção adicional.

Um programa racional e humanitário tem de levar em conta os benefícios de reservar mais ou menos doses para cada um desses grupos. A julgar pelas estatísticas disponíveis, seria conveniente dar ênfase à vacinação completa dos adultos.

No Brasil, apenas 33% da população de 12 anos ou mais foi totalmente vacinada; 74% recebeu ao menos uma dose. Apenas entre pessoas de 60 anos ou mais a cobertura atingiu mais de 95% da população —isso no caso de São Paulo, de processo mais adiantado.

Está evidente na análise dos dados que a mortalidade entre os grupos de idade com vacinação quase completa é bem menor do que entre aqueles com proteção parcial. Por outro lado, estudos recentes mostram que pessoas mais idosas, além dos 80 anos, têm proteção menor mesmo tendo recebido o esquema completo.

Neste ano, quase 81% dos mortos por Covid-19 no Brasil tinham 50 anos ou mais, um grupo que contém 26% da população. Os mortos com 19 anos ou menos foram 0,35% das vítimas da Covid-19 e são 28% da população. É fácil perceber qual é a população sob risco maior.

As autoridades devem urgentemente fazer um levantamento de riscos por idade e condição (de saúde, de tempo de vacinação, de infecção prévia) a fim de elaborar o programa de imunização mais eficiente de agora em diante.

Ainda há escassez para imunizar em massa e com celeridade. Os dados disponíveis indicam que parece razoável dar o reforço aos muito idosos e a outras pessoas mais vulneráveis, dar menor prioridade à vacinação de 18 milhões de adolescentes de 12 a 17 anos e vacinar total e rapidamente os adultos.

editoriais@grupofolha.com.br

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