A operadora de planos de saúde Prevent Senior tem sido alvo de graves acusações a respeito de sua atuação durante a pandemia.
Um dossiê organizado por 15 médicos da instituição, entregue à CPI da Covid, afirma que a empresa usou pacientes como cobaias em uma pesquisa com medicamentos do chamado tratamento preventivo —defendido, entre outros, pelo presidente Jair Bolsonaro— que hoje são desaconselhados pelas autoridades de saúde.
O documento diz que a Prevent Senior não prestou informações aos doentes, alterou prontuários e omitiu sete mortes de pessoas tratadas com hidroxicloroquina, uma das drogas usadas no experimento. Bolsonaro divulgou o estudo em redes sociais, no dia 18 de abril de 2020, antes da publicação oficial de resultados.
Um dos médicos declarou que o prontuário do óbito do médico negacionista Anthony Wong foi manipulado para ocultar complicações causadas pela Covid-19. Também a explicação da morte de Regina Hang, mãe do empresário bolsonarista Luciano Hang, teria sido objeto de manipulação.
As acusações justificam as medidas tomadas pela CPI na tentativa de elucidar o ocorrido. Há a hipótese de que a Prevent Senior tenha atuado em conexão com o grupo, conhecido como “gabinete paralelo”, que prestava assessoria informal à Presidência da República na defesa de terapias reprovadas por autoridades sanitárias.
Preocupações com a Prevent Senior já haviam sido manifestadas pelo então ministro Luiz Henrique Mandetta, em março de 2020, pouco antes de deixar a Saúde.
Pedro Batista Júnior, diretor da empresa, contestou o dossiê em depoimento à CPI, negou relações com o “gabinete paralelo” e acusou os autores da denúncia de fraude.
À Folha, o presidente-executivo, Fernando Parrillo, afirmou que o estudo não seguiu padrões científicos e, pois, não provava a eficácia da cloroquina —mas teria contado com o consentimento dos pacientes. As mortes omitidas, segundo ele, ocorreram depois do período de observações do trabalho.
Além das investigações da CPI, é elogiável que a Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo tenha designado quatro promotores para compor uma força-tarefa com o objetivo de acompanhar inquérito policial que tramita no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa sobre a aplicação de remédios sem eficácia comprovada.
Escândalo à parte, urge apurar com precisão os procedimentos adotados em mais um deplorável episódio da pandemia no país.
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