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Fabiana Prado

Soluções baseadas na natureza

Brasil pode se reposicionar no cenário mundial, inclusive economicamente

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Fabiana Prado

Bióloga e coordenadora do Lira (Legado Integrado da Região Amazônica)

O homem se distanciou da natureza. Em vez de trazê-la para perto do seu convívio, ao longo dos séculos o movimento foi de destruição e exploração. Lucra quem dilapida a mata e a torna pasto, plantações. Esse cenário desolador, porém, pode estar perto de mudar. E a semente foi plantada na Amazônia. O caminho catastrófico que a floresta vem seguindo pode ter se tornado seiva para uma nova economia que fortaleça soluções baseadas na natureza. Em outras palavras, o lucro estaria em conservar, não mais em destruir.

Trata-se de um movimento que ganha força a cada dia. Segundo a International Union for Conservation of ​Nature (IUCN), soluções baseadas na natureza (SBN) consistem em “ações para proteger, gerenciar de forma sustentável e restaurar ecossistemas naturais ou modificados, que abordem os desafios da sociedade de forma eficaz e adaptativa, proporcionando simultaneamente benefícios para o bem-estar humano e a biodiversidade”. Neste momento de recuperação da pandemia de Covid-19, as SBN têm ganhado atenção mundial por promoverem a integração efetiva das agendas ambiental, social e urbana, além de aumentar a resiliência em eventuais novas crises pandêmicas. O Brasil pode se reposicionar no cenário mundial se investir em soluções baseadas na natureza e na consequente preservação dos ecossistemas.

O principal serviço que está sendo discutido na Amazônia —e com imenso potencial para várias SBN— é o de redução das emissões de carbono na atmosfera. O crédito de carbono é um certificado que atesta e reconhece a redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE, responsáveis pelo aquecimento global), que é convertido em títulos. Esse mecanismo ajuda a financiar essa enorme transição para uma economia de baixo carbono. As iniciativas de REDD+ (sigla para Redução de Emissões provenientes de Desmatamento e Degradação florestal + conservação dos estoques de carbono florestal + manejo sustentável da floresta + aumento do carbono florestal) se destacam nesse sentido.

A floresta em pé, portanto, tem valor econômico. Há um projeto de lei (PL 528/21) tramitando na Câmara dos Deputados que regulamenta o mercado de negociação de créditos de carbono, prevendo que estejam atrelados a projetos de redução ou remoção de gases de efeito estufa da atmosfera.

Em uma live recente, proposta pelo Lira (Legado Integrado da Região Amazônica), representantes de importantes programas de conservação que atuam no bioma, como Fundo Amazônia/BNDES, GEF (Global Environmental Facility), Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade) e Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia), mostraram que a tendência é, em resumo, bioeconomia, conservação e pessoas.

Diante do grande desafio de construção desse novo modelo de conservação para o território amazônico, cada iniciativa —seja do setor público, privado ou do terceiro setor— é importante. Sendo assim, propomos o diálogo entre tais atores sociais e nos comprometemos na construção de um pacto colaborativo em busca de justiça socioambiental e um ecossistema ecologicamente saudável para nós e para as futuras gerações. Dessa forma, consideramos o Lira como apenas mais um passo em direção a esse sonho.

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