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Nova chacina em operação policial no Rio deixa pouca esperança de esclarecimento

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Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, retiraram varios corpos de um manguezal no bairro das Palmeiras, na manhã desta segunda-feira (22).
Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, retiraram corpos de um manguezal - Reprodução/TV Globo

Seis meses após o morticínio causado por uma operação policial na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que deixou quase três dezenas de vítimas, uma nova investida das forças de segurança, desta vez no complexo do Salgueiro, custou ao menos oito vidas.

Mais uma vez a incursão ocorreu depois da morte de um policial na região, caracterizando um padrão de represália. Repetiu-se também o conhecido desprezo por procedimentos legais básicos, que deveriam nortear a ação da polícia —como a preservação dos locais para a realização de perícia.

Atirados numa área de mangue, os corpos foram resgatados por parentes e membros da comunidade, num episódio pungente e cruel, fruto da barbárie que tem caracterizado a atuação do poder estadual na área de segurança.

Segundo dados da Rede de Observatórios de Segurança, que articula entidades dedicadas ao monitoramento de confrontos, de janeiro a outubro deste ano aconteceram 38 chacinas (homicídios de três ou mais pessoas) em território fluminense, das quais 27 resultaram da ação da polícia.

Apenas de janeiro a julho deste ano, segundo dados da Universidade Federal Fluminense, registraram-se 811 mortes decorrentes de intervenção policial no Rio, cifra que representa 38% do total de homicídios —a maior porcentagem em 15 anos.

Apesar dos eventuais esforços do Ministério Público e de entidades de direitos humanos, é difícil crer que o caso será esclarecido, e os abusos, punidos.

Há décadas o confronto armado é o método escolhido pelos governantes para enfrentar quadrilhas do narcotráfico, quase sempre de maneira indiscriminada, com danos irreversíveis para a população de favelas e bairros pobres, constituída majoritariamente por negros.

A lógica do proibicionismo transformada em guerra contra as drogas perdura diante da inércia dos Poderes, que se omitem quanto à necessidade de reorientar as políticas públicas de modo mais eficaz.

Note-se que os descalabros têm contrariado liminar concedida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, sobre o caráter excepcional de incursões da polícia em favelas durante a pandemia. A decisão já obteve maioria no plenário, mas o julgamento arrasta-se desde que Alexandre de Moraes pediu vistas do processo.

A corte deve retomar o caso nesta semana, mas o dano está feito.

editoriais@grupofolha.com.br

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