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Thiago de Sousa Barros

Onde estão as mulheres?

Projetos no Senado visam ampliar diversidade nos conselhos de empresas

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Thiago de Sousa Barros

Professor adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal de Ouro Preto, é doutor em administração de empresas (FGV)

Os conselhos de administração de empresas apresentavam, até bem recentemente, farta predominância masculina, e ainda reinam flagrantes barreiras à entrada de mulheres. Mesmo cientes de que mulheres trazem distintas perspectivas e experiências, o que contribui para a qualidade do debate nos conselhos e eleva os níveis de governança corporativa, são notórias as disparidades na inserção ocupacional entre mulheres e homens nesses órgãos.

Em face disso, diversos países legislaram acerca de cotas à representação de mulheres nos conselhos de administração, casos de Israel, Espanha, França, Itália e Suécia. A Noruega, por exemplo, foi vanguarda e instituiu, em 2008, uma lei exigindo que 40% dos conselhos fossem compostos por mulheres, que à época eram somente 9%. No Brasil não há legislação em vigor, e projetos de lei seguem em discussão, ambos no Senado, como o PL 112/2010, que propõe instituir cota mínima de mulheres nos conselhos de empresas públicas e sociedades de economia mista, e o PL 398/2016, que estipula um percentual mínimo para cada gênero nos conselhos de todas as companhias de capital aberto.

Enquanto isso, uma indagação persiste: onde estão as mulheres? Para conhecer de forma precisa a posição das mulheres na elite corporativa nacional e sua evolução ao longo do tempo (de 1998 a 2018), construí, em pesquisa recente, as redes anuais de conselhos de administração, uma base de dados com 680 empresas listadas na B3 para toda a série, que abarca 59.004 homens e 5.548 mulheres.

Os resultados indicam que houve aumento da participação de mulheres em conselhos: um salto de 6% para 10% neste ínterim, cenário ainda muito distante da realidade observada em outros países (média de 26% na OCDE). Adiciona-se o fato de que os conselhos têm, em média, dez membros e apenas uma mulher. E o pior: 43,3% das firmas sequer têm mulheres no conselho. Tudo isso enfatiza a existência de amplo espaço de crescimento para absorção de mulheres neste segmento do mercado de trabalho.

Essa desigualdade que perdura na esfera empresarial pode ser reparada mediante políticas públicas direcionadas e pelo próprio mercado ao incorporar maior diversidade em seus conselhos de administração. Mais conselheiras, além de contribuir para a performance e os níveis de responsabilidade socioambiental das corporações, geram externalidades positivas, como incentivos para outras mulheres seguirem essa carreira e corroboram com a redução da disparidade salarial entre gêneros.

O assunto da diversidade é ainda mais dilatado, e o abismo mais profundo; afinal, há que se discutir também questões de raça e idade neste meio corporativo que se mostra, permanentemente, masculino, branco e de meia-idade. Não bastasse isso, novel literatura denota que, à medida que não brancos e mulheres alcançam posições de elite, seguem marginalizados para a periferia das redes empresariais, o que leva a reflexão para muito além de números frios e uma análise opaca.

Enquanto o tema da moda é Environmental, Social and corporate Governance (ESG), indivíduos com mesmo grau de instrução e qualificação técnica continuam a receber oportunidades distintas nos conselhos de administração de empresas no Brasil. Até quando?

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