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Ciro Nogueira

O PT quer discutir tudo para não discutir o PT

Objetivo é emular Boric: radicalizar no primeiro turno e moderar no segundo

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Ciro Nogueira

Senador da República (PI), é presidente nacional do PP

Muitos estão estranhando a "radicalização" do tom do Partido dos Trabalhadores e de seu candidato à Presidência da República. Há quem imagine que isso é um "tiro no pé". Não: é uma cortina de fumaça. O objetivo é uma das mais conhecidas táticas de guerra, a manobra diversionista.

É concebida para atrair a atenção dos adversários para um flanco, enquanto o verdadeiro objetivo —camuflado, oculto— passa a ser perseguido como meta principal. E como seria isso na prática?

Na prática, o diversionismo que o PT já está praticando se dá em duas frentes. Primeiro, tenta clonar a estratégia do então candidato Gabriel Boric, hoje presidente eleito do Chile: radicalizar no primeiro turno para moderar no segundo.

O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), conversa com o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 13.dez.21/Folhapress

É uma espécie de "Carta ao Povo Brasileiro" com a faca no pescoço, em que primeiro se assusta os setores médios, apavorando o país e exacerbando as frustrações com o uso político da dor da maior pandemia da história da humanidade, para depois parecer "magnânimo" e tentar ser eleito como se fosse governar com "sensatez".

O problema desse artifício é que Boric é um jovem político. Não tem passado. O PT tem. E é marcado por graves e inquestionáveis fatos. Ao fingir ser um novo Boric, o velho PT tenta ocultar do debate o que realmente pretende fazer. Tenta uma carta branca para governar sem compromissos com nada. Sem coerência com nada.

E isso nos leva ao segundo ponto: o PT radicaliza e quer discutir tudo para não discutir nada do PT. Para não discutir as suas cicatrizes, que não se resumem às condenações do ex-presidente Lula. A proliferação de escândalos na era PT não pode ser agora empacotada de forma simplista como obra do "Departamento de Estado americano".

O desastre econômico de 2015 e 2016 não pode ser retirado da história do partido. E, ao tentar impor o discurso do medo, o PT tenta colocar uma venda nos olhos para que ninguém olhe o PT.

E o leitor irá perguntar: e os que apoiaram o PT? Apoiamos o que achávamos correto e, não fôssemos nós, muitas coisas que a legenda diz que fez sozinha na verdade não teriam acontecido. Aconteceram porque apoiamos, frise-se.

E o que aconteceu de errado? Bem, alguém imagina que o PT compartilhou ou compartilha seu núcleo duro de decisões? Quantas vezes, de forma leal, foi alertado a mudar de curso pelos seus aliados? Quantas vezes ignorou? Deu no que deu.

E não venham falar de contradições em mudanças de posição. O ex-governador Geraldo Alckmin é vendido como um "salto" de maturidade do partido. É mesmo, é?

Agora, o PT não quer discutir o PT. Mas o Brasil não vai cair nessa armadilha. Temos de discutir Jair Bolsonaro, sim. Mas não vamos discutir o medo que o PT quer criar para não discutir o PT que o PT tenta esconder?

A estratégia catastrofista da legenda é a do engodo. O PT pode até imaginar que é o dono do debate, do auge de sua atual síndrome de superioridade. Mas não será o PT que irá pautar a campanha presidencial.
Não serão as suas palavras de ordem ou seus bordões, suas simplificações terraplanistas sobre o governo e o presidente ("genocida, negacionista" e que tais) a essência do debate.

O PT e seu histórico de aparelhamento, suas contradições, seus erros, suas máculas também estarão no centro da discussão. Queira ou não. O partido fala de um futuro imaginário assustador para distrair a plateia. Não nos engana.

O futuro com o PT pode ser assustador, sim. Mas o passado já é suficiente para causar espanto. E não é com prestidigitações retóricas que irá se esconder e esconder o que fez nos verões passados.

O bicho-papão que a legenda tenta criar não nos engana. Vamos discutir o PT que o PT tem medo de que o Brasil se lembre o que é. O PT quer que o Brasil se esqueça do PT. Não vamos deixar.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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