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Benito Salomão

Crises políticas, eleições e economia

Há duas metas: pôr fim ao governo Bolsonaro e reduzir influência do centrão

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Benito Salomão

Doutor em economia, é economista chefe da Gladius Research

Diferentemente de anos anteriores que prometiam, de início, serem "anos de retomada", o Brasil entrou neste 2022 com previsões econômicas já bastante pessimistas.

Desde 2019, quando teve início o governo Jair Bolsonaro (PL), estão disponibilizados dados do PIB brasileiro para 11 trimestres, dos quais em 5 o crescimento foi negativo —ou nulo. Não se trata apenas dos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a economia. Destes 5 trimestres recessivos, 2 deles ocorreram antes da pandemia e outros 2 se deram em 2021, quando o processo de vacinação já estava em curso, e as medidas de isolamento social, mais relaxadas.

Nestes últimos três anos, não dá para desconectar o mau desempenho da economia brasileira das crises políticas que acometeram o Brasil desde a última década e se intensificaram sob a figura de Bolsonaro.
Embora crises políticas sejam difíceis de se quantificar em dados e quase sempre estejam ausentes dos modelos macroeconômicos tradicionais, o que se passa na política influencia na economia —e vice-versa. É impossível, portanto, dissociar o que acontecerá na economia brasileira em 2022 e 2023 do processo eleitoral que se aproxima.

As eleições de 2022 pintam no horizonte como um plebiscito, cuja pergunta é se o governo Bolsonaro deve ou não continuar. A ausência de uma terceira candidatura relevante, há menos de dez meses das eleições e com robustez para quebrar o tom plebiscitário do pleito, indica que em outubro o Brasil deverá fazer uma escolha entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro. Como economista, discordo do programa econômico do PT —estatizante, atrasado, insustentável em termos macroeconômicos. Resta saber se Lula vai abraçar o velho programa partidário de inspiração soviética ou se será o Lula de 2003, do tripé macroeconômico, da reforma da Previdência, da desdolarização da dívida pública e de tantas outras pautas que ajudaram a construir o ciclo de crescimento dos anos 2000.

No que se refere às práticas políticas, o presidencialismo brasileiro requer sintonia entre Executivo e Legislativo. Lula foi capaz de costurar amplo apoio no Congresso sob bases pragmáticas —o popular "toma lá dá cá" predominou no seu período. Não era o melhor modelo, mas era funcional. Com Bolsonaro, no entanto, o Brasil assiste a algo inédito: esvaziado de projetos, o Executivo terceirizou o governo para o Legislativo, que hoje pauta o país a ponto de fazer política orçamentária à revelia do que se passa no "Superministério da Economia". Atualmente, no Brasil, é a Câmara dos Deputados (particularmente setores do centrão), e não o Executivo, que aloca parte dos parcos recursos discricionários disponíveis na União.

Essa distorção nas relações entre Executivo e Legislativo só ocorre em função do tom ameaçador que Bolsonaro adotou contra os Poderes em boa parte do seu governo. Isso inclusive ajudou a minar as bases da confiança e a atirar a economia brasileira neste péssimo desempenho econômico. Para 2022, os democratas devem focar em duas metas: finalizar o governo Bolsonaro e reduzir o tamanho do centrão no Congresso.

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