Descrição de chapéu
Antonio Isuperio

Quantos séculos serão necessários para uma Oprah Winfrey brasileira?

Espera-se que apresentadores negros também tenham vez por aqui

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Antonio Isuperio

Arquiteto brasileiro, é negro, filho de empregada doméstica e LGBTQIA+ que mora em Nova York

O título deste artigo é uma provocação. É óbvio que não precisamos ter uma Oprah Winfrey brasileira, até porque a nossa estrutura social é bem diferente da norte-americana e não é de bom-tom (nem ético) exercer tal comparação.

Precisei citar o nome da apresentadora para que você chegasse até aqui. E agora preciso que fique como se ela o estivesse convidando para esta conversa, já que negros americanos têm um pouco mais de humanidade na perspectiva da branquitude brasileira.

As apresentadoras Fátima Bernardes e Rita Batista - Foto: @ritabatista no Instagram

Os Estados Unidos possuem 13% de negros, e 3% deles estão em posições de alta liderança. Já no Brasil temos 56% de negros e não chegamos a 1% nas posições da alta liderança. Apenas 3,7% dos apresentadores de TV são negros. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2014, de todos os analisados, eram apenas 10 apresentadores negros contra 261 brancos. A CNN americana, por exemplo, tem incrivelmente mais apresentadores negros que a brasileira.

Desde que a televisão existe no Brasil, nunca houve uma protagonista (ou um protagonista) de programas de entretenimento como Ana Maria Braga ou Fátima Bernardes. Quantos séculos serão necessários para termos um apresentador negro em programas de variedades no Brasil?

Já é sabida a provável saída de Fátima Bernardes da grade de programas diários da TV Globo. De acordo com sites de celebridades, a emissora já definiu como fará essa transição, em agosto. Mas uma pergunta deve sempre ser feita: por que o nome de pessoas negras não é cogitado nessas especulações?

Por que continuamos a não ver a possibilidade da existência de pessoas negras em nosso consciente coletivo? Por que que pessoas negras sempre estão em lugares de subalternidade e não de protagonismo e liderança? Isso é muito sério e alimenta todo o complexo violento que nos extermina.

Desde 2020, Rita Batista e Manoel Soares —que são exímios apresentadores— se tornaram repórteres do programa de Fátima e nem sequer foram cogitados para sucedê-la (até uma cantora está na lista de especulações).

Isso me faz lembrar a exposição "Pourquoi pas?" ("Por que não?", em francês), de Alexandra Loras, que trazia a provocação sobre pessoas que jamais estariam no lugar que estão se fossem negras. Parece que nem os casos de George Floyd, Marielle Franco e do menino Miguel Otávio de Santana (dentre tantos outros) foram suficientes para entender a importância da mudança.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.​

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.