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Ventos nórdicos

Pedido de adesão de Finlândia e Suécia à Otan é revés para Putin, mas traz risco

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin - Kirill Kudryavtsev/AFP

Desde o século 12, a Escandinávia vive uma relação conflituosa com o colosso eurasiano situado nas suas fronteiras a leste, hoje materializado na Rússia de Vladimir Putin.

Foram mais de dez guerras ao longo do período. Em 1809, os suecos foram obrigados a ceder o que hoje é a Finlândia ao Império Russo, dando à luz a notória neutralidade nórdica. Ela foi encorpada pela posição finlandesa depois da Segunda Guerra Mundial (1939-45), quando combateu a União Soviética em duas ocasiões.

Helsinque protegeu sua soberania com o não alinhamento militar. Com isso, ao lado da Suécia, o país seguiu fora da Otan, a aliança militar criada pelos Estados Unidos em 1949. Nas sete décadas até o dia 24 de fevereiro deste ano, quando Putin invadiu a Ucrânia, o distanciamento foi conveniente.

Não que as duas nações fossem alheias ao Ocidente: integram a União Europeia desde 1994, o que indica de que lado estão. Mas a guerra mudou tudo.

A Finlândia saiu na frente e, na quinta (12), declarou querer fazer parte da Otan. No dia seguinte, a Suécia divulgou um relatório embasando a mesma iniciativa, que deverá ser anunciada em breve.

Moscou protestou e sugeriu que responderá na mesma moeda ao aumento de forças junto às suas fronteiras, com o reposicionamento de armas nucleares.

Isso traz riscos aos ocidentais, que têm agido dentro de um limite ao armar os ucranianos sem se envolverem diretamente no conflito. O caráter algo farsesco deste arranjo traz o temor de uma Terceira Guerra Mundial, atômica, devidamente insuflado pelo Kremlin.

Enquanto tal cenário permanece remoto, o Ocidente segue escalando a tensão, apostando que Putin possa curvar-se às dificuldades militares que enfrenta em campo.

A expansão da Otan após o ocaso soviético de 1991 é uma obsessão política da Rússia. Os EUA não foram magnânimos ao vencer a Guerra Fria, e desde então o colegiado ganhou 14 países ex-comunistas.

Nesse sentido, um objetivo declarado por Moscou na guerra é justamente evitar Kiev no clube.
O ressentimento russo é explicável, embora desconsidere que antes era Moscou quem tinha aliados armados na franja leste europeia.

Dessa maneira, a eventual adesão nórdica atesta uma grande derrota estratégica de Putin. Ela ainda pode passar por reveses, contudo.

A Turquia, membro rebelde da Otan que é próxima do autocrata, já expressou reservas a Finlândia e Suécia. Com poder de veto a novos sócios, como todos os 30 integrantes da aliança, o país deverá cobrar caro para mudar de ideia.

Se Ancara ficar irredutível, o discurso de união contra o Kremlin será duramente atingido.

editoriais@grupofolha.com.br

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