Quando se consideram os países que mais emitem gases-estufa no mundo, o caso do Brasil é singular. Por aqui as principais fontes de poluição climática não provêm, como é usual nas maiores economias, de atividades industriais e da queima de combustíveis fósseis, mas do desmatamento e da pecuária.
Daí não ser exatamente uma surpresa que a lista das cidades brasileiras que mais contribuem para o aquecimento global destaque a região amazônica, como mostrou a nova edição do Sistema de
Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, iniciativa do consórcio de organizações não governamentais Observatório do Clima.
Nesse ranking inglório, o primeiro lugar cabe ao município de Altamira (PA) —e, das 10 cidades que mais poluem, nada menos que outras 7 estão na Amazônia.
São, pela ordem, São Félix do Xingu (PA), Porto Velho (RO), Lábrea (AM), Pacajá (PA), Novo Progresso (PA), Colniza (MT) e Apuí (AM). Completam a lista, em quinto e oitavo, respectivamente, as metrópoles São Paulo e Rio de Janeiro.
De acordo com o estudo, Altamira emitiu em 2019 35,2 MtCO2e (milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente, uma medida que unifica os gases-estufa). Fosse um país, o município mais extenso do Brasil (159,5 mil km²), mas com apenas 117 mil habitantes, seria o 108º do mundo em emissões, à frente de Suécia e Noruega.
As duas cidades mais emissoras são também aquelas em que mais se desmata. Em 2019, Altamira registrou 575 km² de perda florestal, segundo dados do Inpe. Em São Félix do Xingu encontra-se, ademais, o maior rebanho bovino do Brasil.
A floresta tombada libera na atmosfera todo o carbono armazenado na madeira, nas folhas e nas raízes quando é queimada ou apodrece sobre o solo. Já a atividade pecuária, além de relevante indutor do desmatamento, libera, por meio da digestão dos ruminantes, o metano, um dos gases que mais potencializam o efeito estufa.
A característica predatória de boa parte das emissões nacionais ao menos confere ao país uma vantagem comparativa no inadiável esforço mundial de reduzir o aquecimento. Basta controlar o desmatamento e recuperar as pastagens degradadas para que nossa contribuição à crise climática despenque.
Mas, como sabem até —ou sobretudo— as árvores da Amazônia, não será sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) que o país verá esse ciclo virtuoso acontecer.
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