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Prefeito de SP manda apurar gasto com evento pró-Lula, mas se omite sobre marcha com Bolsonaro

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Jair Bolsonaro participa da Marcha para Jesus, em São Paulo - Allison Sales/Fotorua/Folhapress

Nos últimos meses, uma profusão de casos injustificáveis de uso de dinheiro público para custear shows e eventos, muitos deles com clara conotação político-partidária, ganhou visibilidade, colocando em evidência uma prática tão disseminada quanto condenável.

O exemplo mais recente ocorreu na Marcha para Jesus, que reuniu em São Paulo uma multidão de pessoas no sábado (9).

Com as presenças do presidente Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição, e dos pré-candidatos ao governo estadual Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Rodrigo Garcia (PSDB), entre outros, o encontro de igrejas cristãs mal conseguiu disfarçar o caráter eleitoreiro.

Ao discursar em um carro de som, Bolsonaro evocou novamente alguns de seus tresloucados temas de campanha, como a luta do bem contra o mal e o risco de o Brasil tornar-se uma nação socialista. Não fez outra coisa, pois, senão pedir votos de forma implícita —algo que a legislação veda nesta fase da corrida eleitoral.

Não bastasse ter servido de palanque, o evento foi ainda financiado com dinheiro do contribuinte paulistano, um recurso que deveria ser destinado às necessidades mais prementes de São Paulo.

Juntos, os vereadores João Jorge (PSDB) e Missionário José Olímpio (PL) consagraram ao encontro, via emendas parlamentares, nada menos que R$ 1,7 milhão do Tesouro municipal, numa confusão de interesses evidente.

O bolsonarismo não é o único a se beneficiar desse uso distorcido das verbas públicas. Nos festejos de Primeiro de Maio na capital paulista, centrais sindicais promoveram uma comemoração, também bancada com emendas de vereadores, a favor do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

De modo correto, a Controladoria Geral do Município suspendeu o pagamento de R$ 160 mil à cantora Daniela Mercury, estrela da festa, enquanto uma sindicância aberta a pedido do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), apura as circunstâncias do evento.

Causa espécie, assim, que o alcaide paulistano —presente à marcha, ressalte-se—, desta vez não veja motivos para que o poder público proceda a uma averiguação do encontro de sábado.

Ocioso dizer que cabe a Nunes zelar pelo bom uso dos recursos públicos em todas as situações —e não apenas quando o alvo do constrangimento são adversários no campo político.

editoriais@grupofolha.com.br

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