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Sylvio do Carmo

Incêndios recentes em São Paulo reacendem debate sobre prevenção

Para diminuir o número de mortes e feridos, precisamos de gigantesco esforço

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Sylvio do Carmo

Presidente da Abichama (Associação Brasileira da Indústria de Retardantes de Chama)

Os recentes incêndios de grandes proporções, em galpões e prédios comerciais de São Paulo, reacendem a discussão sobre a necessidade de colocar em prática normas relativas à prevenção passiva. Embora sem vítimas fatais, os últimos casos poderiam marcar verdadeiras tragédias caso tivessem iniciado dentro do horário comercial.

Hoje, segurança é um direito adquirido do consumidor. Oferecer produtos mais seguros não é apenas uma opção da indústria, é uma obrigação. Materiais tradicionais, como madeira, metal e revestimentos para a fabricação de móveis, carros e aparelhos eletrônicos foram substituídos por plásticos, compósitos, espumas e recheios à base de fibras naturais ou sintéticas. No entanto, raramente avaliamos sobre suas condições de inflamabilidade.

Prédio atingido por incêndio na região da rua 25 de Março, em São Paulo - Rubens Cavallari

Na realidade, o vasto conjunto de novos equipamentos elétricos e eletrônicos deu origem a uma série de problemas relacionados à combustão. Como consequência, os incêndios são mais violentos, o que diminui o tempo para evacuação.

Um estudo sobre alarmes de fumaça, do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos EUA, demonstrou que hoje as pessoas têm apenas cerca de três minutos para escapar de um incêndio em casa, tempo muito menor que os 17 minutos reportados no mesmo estudo na década de 1970. É por isso que os retardantes de chama se tornaram um componente essencial de muitos produtos e usados para atender normas e leis de segurança.

Dados da NFPA (National Fire Protection Association), associação que trata dos temas da segurança contra incêndios nos Estados Unidos, referentes a 2020 reportam cerca de 1,4 milhão de incêndios no território norte-americano. Esse número equivale a cerca de 1 incêndio a cada 23 segundos, gerando aproximadamente 3.500 mortes e 15.200 feridos.

A associação também estima uma perda monetária da ordem de US$ 21,9 bilhões em decorrência desses acidentes.

Já na Europa, a EFSA (European Fire Safety Alliance) registrou 1,8 milhão de incêndios em 2021, média de 5.000 casos por dia, com aproximadamente 5.000 mortes e 70 mil feridos. As perdas monetárias com os incêndios foram calculadas em aproximadamente €126 bilhões, correspondendo a 1% do PIB europeu.

No Brasil, temos dificuldades em calcular as perdas causadas por incêndios, pois não existem dados consolidados. Estima-se que somente 11% dos nossos municípios tenham bases dos Corpos de Bombeiros, o que, aliado à falta de dados estatísticos e ao ainda deficiente arcabouço de normas técnicas e regulamentações, dificulta um melhor entendimento das ações necessárias para mitigar os riscos.

Dados não oficiais indicam a ocorrência de cerca de 300 mil incêndios por ano no país, com, aproximadamente, mil mortes. Não sabemos, contudo, se esses números correspondem à realidade.

Para diminuir o número de mortes e feridos, além de proteger nosso meio ambiente e reduzir as perdas patrimoniais e culturais, precisamos de um gigantesco esforço dos órgãos governamentais, da indústria e da comunidade civil em geral.

E apenas com um verdadeiro trabalho conjunto será possível ter uma base de dados real e objetiva sobre os incêndios no Brasil.


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