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Angola e a democracia

Em nova eleição multipartidária, país ainda não vislumbra alternância de poder

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Votação em Luanda, capital de Angola - Chen Cheng/Xinhua

Realizadas nesta semana, as eleições gerais de Angola trouxeram esperanças e desilusões com relação ao futuro político do país africano de língua portuguesa.

De um lado, o quinto pleito multipartidário promovido desde o fim da guerra civil, em 2002, assinala uma saudável periodicidade eleitoral numa nação que vivenciou décadas de governo autocrático.

De outro, a provável nova vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), à frente do país há quase 50 anos, é sinal de que o processo democrático no país ainda está por ser completado.

O MPLA governa Angola desde que o país conquistou a independência de Portugal, em 1975. Durante boa parte desse período, o poder esteve nas mãos de José Eduardo dos Santos, morto há dois meses.

Em 2017, Santos foi substituído por João Lourenço, que, apesar de também integrar o movimento, passou a apoiar as investigações de suspeitas de corrupção durante os anos do antecessor.

Tal ímpeto, porém, foi perdendo força ao longo de seu mandato, período no qual Angola regrediu no ranking da Transparência Internacional, que mede a percepção da corrupção na gestão pública.

O país, ademais, pouco avançou na diversificação de sua economia, mantendo a dependência do petróleo, que hoje responde por mais de 85% das exportações.

Com a apuração das urnas quase concluída, tudo indica que Lourenço seguirá no cargo por mais cinco anos. No sistema eleitoral angolano, os eleitores escolhem uma Assembleia Nacional composta de 220 membros, e o presidente e o vice são, respectivamente, o primeiro e o segundo da lista da legenda mais votada.

Com 97% dos votos computados, o MPLA liderava com 51%, ante 44% da Unita (União Nacional pela Independência Total de Angola). A despeito do triunfo do partido governista, as eleições deste ano registraram avanço significativo da oposição, que no pleito anterior lograra apenas 27% dos sufrágios.

O resultado reflete tanto a mudança geracional em curso —uma ampla parcela de eleitores jovens com pouco ou nenhuma memória dos anos de guerra— como a articulação de forças oposicionistas.

Embora ainda insuficiente para mudar de vez o panorama político do país, o movimento aponta um caminho promissor para Angola, que após consolidar o voto popular ainda precisa passar pelo teste da alternância de poder.

editoriais@grupofolha.com.br

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