Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Enem

Ensino distanciado

Utilidade do EAD é evidente, mas cumpre evitar queda de qualidade na educação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

0
Prova do Enade em São Paulo - Reinaldo Canato - 23.nov.14/UOL/Folhapress

Especialistas em educação superior recomendam não superestimar o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) como ferramenta de avaliação qualitativa. Em que pesem suas limitações, a prova traz indicações preocupantes, contudo, sobre a disseminação do ensino a distância (EAD).

Meros 2,3% dos cursos de graduação do gênero chegam à nota máxima, 5, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Na modalidade presencial, são 6,2%.

A diferença também se apresenta no contingente enorme de cursos que nem mesmo alcançam a nota 3, mínimo exigido pelo MEC. Enquanto 30,9% dos presenciais ficam nos escores 1 e 2, sob risco de sofrer sanções da pasta, no universo EAD praticamente a metade (47,8%) está no limbo.

Não seria o caso, só por esses números, de estigmatizar o aprendizado em ambiente virtual. A pandemia de Covid-19 evidenciou ainda mais sua utilidade e forçou instituições a desenvolver técnicas pedagógicas adequadas para o meio, umas com mais sucesso que outras.

Por aperfeiçoada que seja a ferramenta, nenhum educador relativizará a importância da interação entre alunos e professores numa sala de aula real. O ensino remoto pode e deve ser usado para baratear e dar acesso à educação superior a quem de outro modo não a teria, por falta de recursos ou impossibilidade de deslocamento.

Há indicações, porém, de que o desempenho mais baixo do estudo a distância resulte de fatores que nada têm a ver com a tecnologia. Os matriculados nesses cursos tendem a ser mais velhos (só 16% têm menos de 24 anos, ante 49% nos presenciais) e a trabalhar (77%, contra 63%).

São, portanto, pessoas menos familiarizadas com informática que ficaram defasadas nos estudos e dispõem de menos tempo para aulas, textos e exercícios. Após uma jornada de trabalho, e solitariamente diante de uma tela, motivação e rendimento decaem.

Por fim, parece evidente que muitos estabelecimentos de ensino superior recorrem ao EAD para cortar custos, sem se preocupar com extrair do meio todo seu potencial.

De 2019 para 2020, a modalidade deu um salto de 26%, para 2 milhões de matrículas novas. Em contraste, os cursos presenciais registraram um recuo de 14% no período.

É certo que isso se deveu à pandemia, mas agora é hora de cuidar para que o EAD não contribua para reduzir a já insatisfatória qualidade do ensino superior brasileiro.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.