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Bernardo Guimarães

Agora, a melhor opção é Lula

Eventual governo fornece mais esperança que um segundo mandato de Bolsonaro

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Bernardo Guimarães

Doutor em economia (Yale, EUA), é professor titular da FGV-Eesp

O recado das urnas foi claro e estrondoso. Infelizmente para mim, o Brasil quer Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou Jair Bolsonaro (PL). Agora, nos cabe escolher um deles.

Os dois candidatos são apoiados por séquitos que relevam, perdoam ou não enxergam suas mentiras e seus delitos. Assim, o mecanismo que gera responsabilidade dos políticos por suas palavras e atos em democracias saudáveis não funciona. O presidente eleito poderá ignorar seus discursos sem ser punido por seu eleitorado.

Uma implicação disso é que promessas e planos anunciados na campanha não têm valor. Para avaliar os candidatos, precisamos tentar descobrir o que eles de fato buscarão fazer por outros meios. Seus atos como presidentes fornecem valiosas pistas.

Como professor de economia adepto de políticas liberais, gostaria de um governo que cortasse o déficit fiscal, realizasse reformas microeconômicas para gerar mais eficiência na economia e cuidasse das instituições. Focarei nesses que, claro, são apenas alguns dos objetivos importantes.

Por esses critérios, Lula vence com folga, ainda que fique longe do que eu desejaria.

Tanto Lula quanto Bolsonaro começaram seus mandatos com uma reforma na Previdência. Ambos iniciaram com sinais de responsabilidade fiscal.

Em 2003, Lula prometeu ao FMI um superávit primário de 4,25%, maior do que requeria o fundo. A inflação que disparara ao final de 2002 rapidamente cedeu. Os três primeiros anos de governo Lula foram tempos de reformas microeconômicas que, junto com a grande melhoria no programa de distribuição de renda e com a responsabilidade fiscal, caracterizaram a atuação na economia do seu primeiro mandato.

Já o segundo mandato foi bem diferente. Mais gastos do governo, maior atuação dos bancos públicos (em especial do BNDES), mais intervenção na economia e muito pouco em termos de reformas microeconômicas. A crise financeira de 2008-9 justificaria algum aumento nos gastos, mas a guinada na política econômica foi muito além disso.

O primeiro ano de mandato de Bolsonaro teve reformas importantes. A crise da Covid-19 em 2020 forneceu bons motivos para aumentar os gastos. Mas, desde então, a política econômica tem sido caracterizada por desleixo na parte fiscal, ausência de reformas e intervencionismo excessivo. A PEC que torra dezenas de bilhões de reais em gasolina às vésperas da eleição é a cereja nesse bolo.

Ao que tudo indica, Bolsonaro em um próximo mandato continuaria mandando no ministro da Economia. O prospecto não é bom.

Lula parece buscar algo parecido com seu primeiro mandato e está politicamente forte, dentro do PT, para suportar pressões em contrário. Ainda assim, muitas das demandas do partido terão que ser atendidas. Seu eventual governo será menos liberal e reformista do que eu gostaria, mas fornece mais esperança que um governo Bolsonaro.

No tocante às instituições, Bolsonaro perde feio. Suas tentativas de fragilizar a democracia têm levado inúmeros economistas em geral contrários ao PT a recomendar o voto em Lula. Os benefícios mais importantes de uma democracia não dizem respeito à economia, mas instituições sólidas são importantes para o crescimento econômico de longo prazo.

Como presidente, Bolsonaro semeou desunião. Lula não tira nota alta nesse quesito, mas teve momentos em que se portou como o presidente de um país inteiro. Seria desejável que o próximo governo conseguisse reduzir as tensões de um Brasil tão desunido. Até para que artigos como este gerem menos raiva e mais reflexão nas próximas eleições.

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