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Poder de Xi evidencia China mais assertiva, com reação proporcional dos EUA

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Presidente da China Xi Jinping na cerimônia de abertura do 20º Congresso do Partido Comunista - Thomas Peter/Reuters

Desde que a ascensão ateniense levou à Guerra do Peloponeso na Grécia do século 5 a.C., o mundo vê conflitos entre potências estabelecidas e suas desafiantes.

Antes havia Esparta, agora há os Estados Unidos. Já Atenas está hoje encarnada na China, cujo crescimento vertiginoso nos últimos 30 anos a levou ao posto de segunda potência econômica global.

Estado totalitário forjado por uma revolução marxista, a China começou sua escalada quando se livrou dos dogmas comunistas na economia e integrou-se às cadeias produtivas do capitalismo.

A guinada contou com o estímulo estratégico dos EUA, que visavam minar a antiga rival União Soviética e ter acesso a um mercado com mais de 1 bilhão de almas.

Ciente de seus limites, Pequim manteve discrição máxima na cena internacional enquanto o Produto Interno Bruto do país crescia.

Em 2012, a chegada ao poder de Xi Jinping parecia acrescentar mais um nome a uma série conhecida de líderes que buscavam acomodação com um Ocidente convencido de que a abertura do mercado transformaria o regime chinês.

Ledo engano. Xi intensificou o controle ideológico estatal e fortaleceu as estruturas do Partido Comunista —a um nível antes alcançado pelo pai fundador da ditadura, Mao Tse-Tung.

Em Hong Kong e Xinjiang, usou mão de ferro para impor a unicidade da nação, que visa estender à ilha autônoma de Taiwan.

De outro lado, utiliza práticas de governança não de Marx ou Lênin, e sim de Confúcio, filósofo que por 2.000 anos pautou a ideia de poder vertical, mas móvel, no país.

Além disso, viabilizou sua permanência de forma indefinida no cargo —a ser ratificada pelo inédito terceiro mandato concedido no 20º Congresso do Partido Comunista, que acaba no sábado (22). A provável mudança de 4 dos 7 membros do Comitê Permanente do Politburo, instância política máxima, solidificará o controle de Xi.

O país se consolida como mais uma força no cenário geopolítico, por décadas passadas dominado pelos antagonistas EUA e União Soviética. Os americanos mantêm dominância bélica, econômica e cultural inigualável, enquanto ainda polarizam com a Rússia, aliada de Xi, ao apoiar a Ucrânia com fornecimento de armas.

A China está no zênite, mas lida com um rosário de crises, como o impacto da sua política de Covid zero e a bolha no setor imobiliário.

A disputa sobre o mercado de chips, lançada pelos EUA, funciona como lembrança de que talvez mais acomodação com o Ocidente seja um passo inevitável, caso o gigante asiático pretenda permanecer como forte competidor no embate global do século 21.

editoriais@grupofolha.com.br

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