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Coalizão para quê?

Lula tem de definir aonde quer chegar antes de arregimentar base no Congresso

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Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversa com o presidente da Câmara, Arthur Lira, em Brasília - Adriano Machado/Reuters

Há um desafio aritmético para a formação da aliança de partidos que sustentará o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A coalizão de siglas que o elegeu não soma deputados federais suficientes nem sequer para barrar um hipotético pedido de impeachment.

Seria necessário agregar todas as três agremiações grandes que não apoiaram o presidente Jair Bolsonaro (PL) —União Brasil, PSD e MDB— para assegurar pouco mais da maioria dos 513 deputados e ter margem de segurança para aprovar projetos de lei comuns. No Senado, a matemática é semelhante.
Reformas constitucionais, que exigem 60% dos votos nas duas Casas, demandariam esforços ainda mais amplos de cooptação.

Explicam-se por aí as cautelas adotadas pelo futuro mandatário nas suas primeiras conversas com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ambos almejam a reeleição em fevereiro, quando se inaugura a nova legislatura.

Lula prometeu que não interferirá nas disputas para as chefias do Legislativo, o que é significativo sobretudo no caso de Lira, apoiador e protetor destacado de Bolsonaro e pivô da distribuição seletiva das bilionárias emendas de relator.

A movimentação vai além da promessa de neutralidade de Lula. O presidente da Câmara tenta arregimentar no centrão apoios suficientes para ficar imune a qualquer ameaça do novo governismo. A chamada PEC da Transição, que parece um trem da alegria da gastança rumo a 2023, é utilizada como moeda de troca nos conchavos.

Vê-se que apenas as habilidades retóricas do futuro presidente da República não garantirão uma maioria estável de parlamentares. Será preciso compartilhar de verdade o governo, coisa que o PT sempre teve dificuldade prática de fazer.

A julgar pelo alto índice de povoamento petista nos cargos da transição, o início não foi promissor. O ponto mais crítico, contudo, continua sendo tentar decifrar o que o terceiro governo Lula pretende fazer com a maioria parlamentar.

Não há plano de gestão minimamente exposto. Empilhar irresponsavelmente despesas no Orçamento não se parece com um. Em que reformas do regime dos gastos e das receitas o presidente vai depositar seu cacife de recém-eleito no primeiro ano da administração?

O que surgirá de iniciativa legislativa para acelerar a recuperação dos estudantes, em especial os mais pobres, castigados pelo mais longo período fora das salas de aula de que se tem notícia? E para deter a marcha da devastação florestal?

Se não se compuser logo a força organizadora da política, que só pode vir do chefe do Executivo no sistema brasileiro, o centrão cavalgará à vontade por mais quatro anos.

editoriais@grupofolha.com

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