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O que a Folha pensa Banco Central

2023 segundo o BC

Desaceleração prevista da economia pode se agravar com ações do novo governo

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Sede do Banco Central, em Brasília - Adriano Machado/Reuters

Com a permanência dos juros em nível muito elevado —o que pode se prolongar a depender das ações do novo governo— e o esgotamento do impulso dos serviços depois do impacto da pandemia, a perspectiva para 2023 é de desaceleração da economia. É o que se ratifica no relatório trimestral de inflação divulgado pelo Banco Central.

O desempenho do Produto Interno Bruto neste ano foi uma surpresa positiva, que deve resultar em uma expansão próxima de 3%.

A forte retomada da demanda, com ascensão do consumo das famílias projetada em mais de 4%, é o principal vetor. Mas investimentos também foram bem, inclusive na infraestrutura favorecida por avanços na regulação setorial.

A melhora mais palpável se dá na retomada dos empregos e da renda. A massa de salários, métrica do poder de compra que multiplica a renda média pelo número de pessoas empregadas, subiu 11,7% no trimestre encerrado em outubro, ante o ano anterior.

Entretanto essa dinâmica está em risco. Os dados preliminares apontam para redução da atividade no quarto trimestre. Em seu relatório, o BC aponta tais tendências.

A projeção para 2023 é de redução do crescimento para 1%, com base ainda em algum incremento do consumo e no agronegócio.

Fora isso, a perspectiva é de estagnação da indústria e do investimento. Não se trata de algo surpreendente, tendo em vista o aperto da política monetária necessário para controlar a inflação.

Os juros reais (que descontam a variação de preços) estão em 7,8% ao ano e devem cair para ainda elevados 6,4% no final de 2023, segundo o BC. Muito acima do patamar perto de 4% considerado neutro para a inflação e a atividade.

Mesmo assim, o retorno do IPCA para as metas deve ser lento —nas projeções da autoridade monetária, ocorreria apenas em 2024.

Até lá, o custo do arrocho para o país é menos produção e emprego. Por isso os sinais do novo governo se mostram ainda mais perigosos.

Antes do flerte com a gastança, que na melhor hipótese ainda pode ser revisto, o mercado considerava que a taxa Selic cairia para 11% anuais no final de 2023. Essa perspectiva foi agora abandonada, e já há quem espere novas altas, caso se confirme a ampliação desmesurada do déficit orçamentário.

O ambiente internacional, além disso, não é favorável. Cresce o risco de recessão nos EUA e na Europa, enquanto a China busca a difícil saída das restrições sanitárias.

Toda a prudência agora é recomendável. Sinalizar compromisso de responsabilidade com as contas públicas e que não haverá reversão dos avanços regulatórios dos últimos anos é essencial para não abortar a retomada.

editoriais@grupofolha.com

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