VÁRIOS AUTORES (nomes ao final do texto)
Em 2005, uma pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com mais de 75 mil empresas industriais revelou que aquelas que inovam e diferenciam produtos faturam, crescem e exportam mais, são mais produtivas, pagam melhores salários e mantêm os trabalhadores por mais tempo.
Internacionalmente, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) aponta que a inovação corresponde a pelo menos 50% do crescimento econômico dos seus membros. Contudo, a despeito das evidências, avançamos muito pouco no Brasil. Dentre outras razões para nosso imobilismo, encontram-se a falta de compreensão do que vem a ser inovação e a natureza complexa das mudanças necessárias para deslanchá-la.
Inovação diz respeito à capacidade de criar valor, empresas e novos setores da economia. Uma economia é inovadora quando o padrão de competição dominante é baseado na introdução nos mercados de produtos, soluções e modelos de negócios que se diferenciam do que já existe. Inovação é, primeiro, um problema de negócios, economia e instituições, não apenas de ciência e tecnologia (C&T).
A inovação tem dois motores: o empreendedorismo e o conhecimento. Para avançar em inovação, precisamos tornar mais fácil o esforço de quem empreende. Simultaneamente, precisamos de conhecimento de gestão (chave para a produtividade), de mercados globais (para colocar no mundo novos produtos, soluções e negócios originados no Brasil) e científico-tecnológico (para resolver problemas tecnicamente sofisticados). Para inovar mais, precisamos internacionalizar nossa economia, e vice-versa.
Estamos defasados em relação ao que as economias avançadas fazem, e será preciso modernizar o setor público e seu ferramental. Como fazer isso? O caminho que propomos inclui três eixos articulados.
Primeiro, escolher problemas relevantes e desenhar programas transformadores (missões) para solucioná-los, com metas ambiciosas e potencial para gerar negócios globais intensivos em conhecimento. Tais missões deverão puxar o desenvolvimento e a aplicação de conhecimento.
Problemas em quais áreas queremos atacar? Saúde? Educação? Geração de valor a partir da biodiversidade? Energias limpas? Será preciso fazer escolhas, considerar a transformação digital da economia e reorientar o investimento em C&T. Nos EUA, 80% do investimento público federal em C&T é dirigido para resolver problemas em áreas selecionadas, enquanto no Brasil a proporção é de apenas 20%. É preciso aumentar radicalmente os investimentos brasileiros em C&T e inverter essa proporção.
Segundo, puxar mudanças institucionais a partir das missões. A despeito de avanços, como o marco legal da inovação, permanece uma divisão anacrônica entre setor público e privado no Brasil, dificultando parcerias entre universidades e empresas, inibindo a atração de talentos globais e diminuindo a agilidade dos programas. Será necessário derrubar muros entre o público e o privado e fazer com que o setor público possa tomar riscos e experimentar novas ferramentas contratuais, formas de alocação de recursos e modelos de organização, como a Alemanha está fazendo com a nova Agência Federal para a Inovação Disruptiva (Sprin-D), por exemplo.
Terceiro, aprimorar a governança da inovação e vinculá-la ao centro do poder; isto é, à Presidência da República. As mudanças institucionais necessárias e os programas transformadores requerem coordenação público-privada e interministerial de alto nível e capital político que, no Brasil, somente a Presidência da República reúne.
Investir em inovação tem sentido para as empresas, as pessoas e o Brasil. O momento de efervescência atual é singular e deveria ser aproveitado para redefinir as bases do nosso projeto coletivo como nação.
Apostar em inovação significa apostar no futuro da nossa economia e na prosperidade de nossa sociedade. Dá para fazer. A escolha é nossa.
Roberto Alvarez
Engenheiro, diretor-executivo da GFCC e investidor em startups
Juan Castilla-Rubio
Membro do Conselho de Bioeconomia e Inovação do Fórum Econômico Mundial
Silvio Meira
Cientista da computação e fundador do Porto Digital
Fersen Lambranho
Presidente da GP Investments
Robson Capasso
Médico e professor na Universidade Stanford
* Os autores deste artigo são integrantes do Derrubando Muros e colaboradores da publicação Uma Agenda Inadiável
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.