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Kleber Lucas

Tempo de esperança

É hora de reconciliações, de vitória sobre o ódio

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Kleber Lucas

Pastor da Igreja Batista Soul, é cantor e compositor

O Natal, uma festa cristã, ganhou ao longo da história muitas representações. Entretanto vale refletirmos sobre o espírito do Natal. Antes mesmo de falarmos sobre essa representação secundária, pensemos na data no sentido originário, no nascimento do filho de Deus, a chegada de Jesus de Nazaré, anunciada por reis que vêm do Oriente.

A lembrança de uma estrela que brilha no céu, a simplicidade da manjedoura, o acolhimento de Maria e José, as aparições de anjos a pastores, a entrega de ouro, incenso e mirra. Lembranças que apontam para o reino de Deus, que se manifesta aos humildes e aos pobres.

Vale um alerta, também: os religiosos responsáveis pelo templo e suas liturgias não estiveram atentos à chegada do filho de Deus. Nem mesmo o poder político de Roma, instaurado naquela região. Foram os reis magos que vieram do Oriente e disseram: "Nós vimos a sua estrela e viemos adorá-lo". Chama a atenção porque, o que não é percebido por essas lideranças ali estabelecidas, é notado pela periferia.

Tem o segundo recorte, que é o desdobramento desse mesmo espírito ao longo da história, que também tem seu valor. A representação do Ocidente na figura do Papai Noel, da árvore de Natal, da ceia, das pessoas ao redor da mesa. E não pode ser inviabilizado —nem inviabiliza— a memória primária do Natal.

Não há nenhum problema nessa questão, especialmente para nós no Brasil, do Natal, das famílias, dos sorrisos, dos abraços. Isso mexe muito com o ideal imaginário. Mas o que nós gostaríamos de experimentar neste Natal? Natal é tempo de reconciliações, de vitória sobre inimizades, sobre o ódio. Não é verdade?

A possibilidade de estarmos todos ali, numa relação fraterna, bonita, sem distanciamentos. Quando se pensa nesse símbolo de fraternidade, sinaliza-se ao espírito natalino e à proposta real do Natal. Vale a pena pensar que esse espírito não é de uma experiência única e exclusiva.

A chegada dos reis que vêm do Oriente, recebidos por religiosos que guardavam o templo, aponta para a possibilidade de se ver esse espírito de diferentes formas ou expressões religiosas. É a tolerância das experiências. Elas têm muitos vieses, são percebidas de alguma forma por outros olhares, outros agentes históricos. Aponta para urgência de tolerância e diálogo religioso.

Também é importante enfatizar que não é possível viver a plenitude do Natal tendo a minha mesa arrumada, mas sem pessoas. De igual forma, não consigo vivenciar o Natal se percebo que o meu próximo —e às vezes bem próximo a mim— não tem comida em casa ou está longe de seus entes queridos porque alguns deles estão esquecidos socialmente, numa geografia de apagamento de memória.

É o momento de chamar a atenção para a partilha social. Meu desejo profundo é que o verdadeiro espírito natalino ressurja no coração e na vida de cada brasileiro e brasileira. O rico não pode ter uma mesa só para si, o pobre não pode ter uma mesa vazia. Essa atmosfera precisa gerar um desejo de fraternidade, de mesa para todos e justiça na casa de todos.

Uma estrela brilha nos céus do Brasil e aponta para um futuro melhor. Que as mesas sejam reconciliadas. Vivemos muito tempo dentro de um fanatismo e de um fundamentalismo religioso que separaram mesas e familiares. É hora de a alegria ser proposta. Eis o meu desejo profundo para você neste final de ano.

Acredito que a luz brilhou novamente para todos nós, brasileiros e brasileiras. Feliz Natal!

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