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Priscilla Bacalhau

Em busca da bala de prata

Por si só, ensino em tempo integral não será a salvação mágica da educação

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Priscilla Bacalhau

Consultora de impacto social e pesquisadora do FGV/EESP Clear

"Não existe bala de prata na educação." Esta máxima é sempre repetida por especialistas e educadores. Ou seja, não é uma única política ou iniciativa que será capaz de resolver todos os problemas educacionais.

Ao mesmo tempo em que isso é verdade, a busca por uma solução mágica, ainda que não explícita, volta com recorrência aos debates. Com os novos governos, a busca é reiniciada, movida pelo imediatismo dos ciclos políticos, que exige resultados rápidos. Afinal, problemas educacionais históricos e persistentes, como desigualdade no acesso à educação de qualidade e desinteresse dos jovens pela escola, seguem precisando ser combatidos.

Alunos do ensino integral na biblioteca da escola Matias Beck, em Fortaleza - Jarbas Oliveira

Para encontrar uma boa solução, o primeiro passo é conhecer bem o problema. Sem entender o contexto e suas peculiaridades, não adianta reproduzir algo que deu certo em outro lugar. Enxergar a educação e seus desafios de forma sistêmica é indispensável.

Além disso, o significado de "dar certo" é menos direto do que possa parecer. Para dizer que uma política deu certo, é preciso considerar uma ampla gama de aspectos. Aumentar o Ideb, que engloba aprendizado médio e aprovação escolar, não pode ser mais a única medida de qualidade para políticas públicas. Os desafios atuais de desigualdade educacional não são contemplados por esse indicador e não podem mais ser negligenciados. O aprimoramento de políticas educacionais depende de informações e evidências de diferentes fontes, inclusive das vozes de quem faz o dia a dia da escola, como estudantes e professores.

Uma política apontada como possível solução para a educação hoje é o tempo integral. A implementação do ensino médio em tempo integral em Pernambuco é um exemplo de sucesso por ter alcançado expressiva melhoria nos indicadores, tendo elevado em quase 50% o Ideb na última década. O que os indicadores sintéticos não mostram são as dificuldades iniciais que a comunidade escolar passou com o aumento da carga horária e os desafios para colocar de pé uma mudança estrutural no sistema educacional. Apenas repetir o modelo, sem entender os pormenores, não será suficiente.

A educação em tempo integral, por si só, não vai ser a salvação mágica da educação no Brasil: é preciso ter suporte pedagógico, formação para professores e líderes, infraestrutura básica. Passar mais tempo dentro da escola não é suficiente para que jovens tenham acesso a uma educação integral e de qualidade.
Deve-se reconhecer os avanços, mas também os complexos desafios. Não adianta repetir que não existe bala de prata nem continuar buscando soluções prontas e ignorar as evidências que vêm do chão da escola.

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