Por um futuro sem racismo

Educação antirracista não pode ser um privilégio para poucos

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Priscilla Bacalhau

Consultora de impacto social e pesquisadora do FGV/EESP Clear

"Você tem cor de sujeira"; "Não gostamos de você porque você é marrom"; "Neguinha do cabelo ruim"; "Fede a chorume".

Essas são frases doídas para ler e escrever, mas são reais, divulgadas na mídia, ditas dentro de ambientes escolares, de um estudante para outro. Infelizmente, são apenas alguns exemplos de como o racismo está incrustado na sociedade brasileira e no dia a dia da escola, um dos principais espaços de socialização infantojuvenil.

Vivenciar essa situação desde tão jovem pode causar traumas, problemas de autoestima e pertencimento, além de exclusão e abandono escolar. Para estudantes que praticam atos de racismo, há efeitos corruptores de sua formação moral, que os levam a internalizar uma enganosa crença em uma hierarquia de raças e etnias.

Existe um caminho para que a escola não seja esse espaço reprodutor de desigualdades e encorajador de racismo: educação antirracista. Por meio dela, o racismo estrutural é trazido à pauta da sala de aula e da comunidade escolar, promovendo sensibilização e informação sobre o tema para extinguir opressão entre estudantes e em suas experiências de vida fora da escola. A educação antirracista é papel de todos na formação integral de estudantes. O assunto não deve ficar restrito aos dias 13 de maio e 20 de novembro.

Nas políticas educacionais, a prática antirracista deve estar no sistema de financiamento, na formação permanente de educadores, no regime de colaboração entre redes e na elaboração de indicadores para monitoramento e avaliação. No nível da escola, gestores e professores precisam liderar uma mobilização da comunidade escolar, incluindo as famílias, realizar diagnóstico de situações racistas e trabalhar com materiais sobre o tema de forma transversal e interdisciplinar.

Essas soluções não são novas. Movimentos negros e indígenas resistem e promovem soluções há séculos, muitas vezes invisibilizados pelo próprio racismo que buscam combater. Algumas das conquistas incluem a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena, a recente lei que equipara injúria racial ao crime de racismo, e os novos ministérios da Igualdade Racial e dos Povos Indígenas, que abrem caminho para a realização de ações transversais.

Educação antirracista não pode ser um privilégio para poucos. Se queremos um futuro sem racismo, precisamos agir desde hoje, por meio da educação e aprendendo com a luta dos movimentos sociais.

Ainda há muito o que conquistar. Nossa geração precisa lidar com os traumas que trazemos do racismo vivenciados desde a juventude. É papel de todos e todas não permitir que as próximas gerações passem pelo mesmo.

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