Passadas poucas horas desde o ataque de bolsonaristas às sedes dos três Poderes, tudo o que a turba delinquente conseguiu foi unir forças políticas, institucionais e sociais do país e do mundo no repúdio à baderna autoritária, além de favorecer o endurecimento da reação aos atos antidemocráticos.
Logo na manhã desta segunda-feira (9), os presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal divulgaram nota conjunta contra "os atos terroristas, de vandalismo, criminosos e golpistas" ocorridos em Brasília.
Da esquerda à direita, passando pelo PL de Jair Bolsonaro, líderes partidários condenaram a violência. O próprio ex-presidente, a uma distância segura nos Estados Unidos, declarou que depredações de prédios públicos fogem à regra democrática. Sindicatos de trabalhadores e entidades empresariais também se juntaram ao coro.
Na comunidade internacional, manifestaram-se do americano Joe Biden ao russo Vladimir Putin, aí incluídos o premiê conservador britânico, a ultradireitista primeira-ministra da Itália, o presidente reformista francês, vizinhos da América do Sul, o secretário-geral da ONU, o papa Francisco.
A resposta institucional à algazarra golpista foi rápida e dura. Com fundamentação ainda duvidosa, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou o afastamento do cargo, por 90 dias, do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), tido até aqui como principal responsável pela inépcia escandalosa da segurança no domingo.
Também se determinaram a desocupação de acampamentos em frente a quartéis, enfim, e a prisão em flagrante de envolvidos em atos criminosos. Em Brasília, foram reportados cerca de 1.200 detidos.
Ao menos no curto prazo, a estupidez dos extremistas proporciona uma oportunidade política para o presidente que gostariam de derrubar —o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ora ganha a solidariedade do país e do mundo contra o arbítrio e a barbárie.
Da mesma maneira, o momento de comoção tende a elevar o apoio geral às medidas judiciais tomadas em nome da defesa da ordem democrática, que por definição não podem se afastar dos limites da lei.
Resta muito a investigar a respeito do deplorável episódio —seus participantes, líderes e eventuais financiadores; a extensão das perdas para o patrimônio dos brasileiros; as responsabilidades locais e federais pela desídia das forças de segurança. A tarefa exigirá das autoridades mais perícia e perseverança do que medidas de impacto.
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