No grande campo de disputas entre Estados Unidos, a potência estabelecida desde o século passado, e a desafiante China, a península coreana se encaixa como uma frente especialmente perigosa para a segurança mundial.
Desde 1953, quando foi congelada a guerra entre o Sul capitalista e o Norte comunista, a tensão é perene, com surtos de acomodação e até vislumbres de paz.
Foi o que ocorreu na recente tentativa de aproximação entre Washington, fiadora de Seul, e Pyongyang, apoiada por China e Rússia, principais atores do embate geopolítico atual, em flancos diversos como Taiwan e Ucrânia.
Após um 2017 de beligerância, o então presidente Donald Trump trouxe o ditador Kim Jong-un à mesa por três vezes. Mas a ideia americana de retirar a capacidade nuclear do Norte era falha.
A bomba atômica, que a ditadura asiática já testou seis vezes, é o seguro de vida da aberrante dinastia stalinista que comanda Pyongyang desde 1948, quando o país emergiu da partilha da península entre União Soviética e EUA.
Com efeito, passado o período mais duro da pandemia, Pyongyang acelerou seu programa de mísseis, que tem uma gama impressionante de armas, algumas capazes de atingir até solo americano.
O alarme foi tão grande que Tóquio, deixando claro que vê a Coreia do Norte e a China como uma ameaça única, abandonou décadas de pacifismo e até estreitou laços com Seul —relação tisnada pela memória da brutal ocupação japonesa da região no passado.
Agora, EUA e Coreia do Sul anunciaram uma renovada aliança, com os presidentes Joe Biden e Yoon Suk-yeol proferindo ameaças contra Pyongyang. Os países prometem tomar decisões conjuntas em caso de uma guerra, empregando o arsenal atômico operacional americano, 50 vezes maior do que o estimado norte-coreano.
Para sinalizar sua disposição, Biden enviará, pela primeira vez desde a Guerra Fria, um submarino com mísseis nucleares a um porto sul-coreano, embora descarte posicionar ogivas no aliado.
China e Rússia denunciaram o acordo e defenderam o aliado, que mantém-se em enervante silêncio.
Se a ação americana é consonante com a volta da política de força às relações internacionais, ela também embute riscos de escaladas acidentais e erros de cálculo, degradando ainda mais as chances de estabilidade e paz no planeta.
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