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Com Argentina, Lula de novo ensaia apoiar políticas irresponsáveis de aliados

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Alberto Fernández, presidente da Argentina, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Sergio LimaAFP

Como se não tivessem bastado os calotes de Cuba e Venezuela em dívidas com o Brasil contraídas durante administrações petistas, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) insiste em adotar afinidades ideológicas como critério definidor das relações internacionais.

O caso do momento é a Argentina, em profunda crise econômica. No encontro com o presidente Alberto Fernández, o mandatário brasileiro recorreu ao velho expediente de associar o Fundo Monetário Internacional, principal credor, às mazelas do país vizinho.

Para Lula, o FMI deveria "tirar a faca do pescoço da Argentina", ignorando todas as negociações anteriores cujas condições foram descumpridas pela Casa Rosada.

É antiga a fixação da esquerda latino-americana em culpar o Fundo pela instabilidade econômica da região. Se no passado, quando os fluxos internacionais de capital privado eram restritos, a queixa poderia ter algum fundamento, no mundo atual é delirante manter o mesma cantilena.

A responsabilidade pelo caos argentino é de sucessivos governos —à direita ou à esquerda, mas todos reféns do peronismo— que geriram a economia de modo irresponsável. Fernández e suas políticas populistas tornaram a situação mais dramática nos últimos anos.

Não é por acaso que a inflação supera 100% ao ano e que o peso derrete continuamente. O caminho, infelizmente improvável, seria um ajuste de contas interno de grande magnitude, que permitisse a recuperação da credibilidade da moeda e das finanças públicas.

O Brasil, naturalmente, perde com a deterioração da economia argentina. É notável que um país fronteiriço e com amplo potencial tenha absorvido em 2022 apenas 4,6% das exportações brasileiras, equivalentes a US$ 15,3 bilhões. É uma fração da posição de 20 anos atrás e menos, por exemplo, do que as vendas para Oriente Médio.

Felizmente, Lula ainda não entregou dinheiro brasileiro ao vizinho, limitando-se a uma tentativa até aqui infrutífera de ampliar o comércio por meio de promessas de crédito a exportadores brasileiros e compradores argentinos.

Entretanto nenhum mecanismo de financiamento bilateral, ainda que conte com garantias, será capaz de evitar inadimplência se o próprio governo argentino não colocar sua casa em ordem.

A nova promessa do petista é tentar alterar o estatuto do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics, hoje presidido por Dilma Rousseff (PT), para dar garantias a Buenos Aires. Eis mais uma invencionice temerária, já que a instituição tem como mandato financiar apenas os países membros.

É natural que o Brasil, por seu peso na América Latina, exerça influência na região. O pior modo de fazê-lo é justamente dando suporte a políticas fracassadas que sabotam o desenvolvimento de todos.

editoriais@grupofolha.com.br

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