Descrição de chapéu
O que a Folha pensa América Latina

Imprensa entre polos

Sem Bolsonaro, Brasil melhora em ranking, mas há radicalização e áreas de risco

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Jornalistas entrevistam Fernando Haddad (PT), ministro da Economia, e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados - Gabriela Biló/Folhapress

O Brasil subiu 18 posições no ranking de liberdade de imprensa publicado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras, passando do 110º lugar entre 180 países, em 2022, para o 92º neste ano. No relatório, a ONG atribui a ascensão à saída de Jair Bolsonaro (PL) do poder, o que não pode ser considerado exagero.

Pela primeira vez, tivemos um presidente que se recusava a falar com a imprensa, sem contar os ataques frequentes a veículos e jornalistas —como o caso da jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha.

O ex-mandatário estimulava a militância, que perseguia profissionais nas redes sociais e em eventos públicos, por vezes com violência.

Deve-se notar que o comportamento não surgiu quando Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto.

Segundo a RSF, o ataque à imprensa está ligado à polarização política, intensificada nos últimos anos.
Políticos e militantes petistas também têm um histórico de hostilidades contra veículos de comunicação, especialmente após episódios como o escândalo do Mensalão, o processo de impeachment de Dilma Rousseff e a Lava Jato. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) flertou com a ideia de "regular a mídia".

Foi sob Bolsonaro, no entanto, que os ataques ao jornalismo profissional e a recusa à prestação de contas se tornaram uma política escancarada da Presidência.

O ranking da RSF também computa casos extremos, quando jornalistas são vítimas de homicídio devido ao exercício da profissão. Em 2022, 59 foram mortos no mundo. No Brasil, foram 3, como o britânico Dom Phillips, assassinado com o indigenista Bruno Pereira quando investigavam a pesca ilegal no estado do Amazonas.

Pelo menos 30 jornalistas foram assassinados nos últimos dez anos no Brasil. A América Latina figura a cada ano como uma das zonas mais perigosas. Dos 59 mortos em 2022, 27 estavam em países da região. O México, com 11 assassinatos, superou a Ucrânia, em guerra, com 8.

Aqui são conhecidas as áreas de grande risco, como a Amazônia, onde o Estado falha em proporcionar a segurança básica para a circulação de informações. Ademais, jornalistas que noticiam corrupção local em municípios de pequeno e médio porte são mais vulneráveis.

Quanto aos governantes, a insatisfação com o trabalho de escrutínio da imprensa é recorrente e, até certo ponto, normal. Os que prezam a democracia saberão respeitar o limite entre o questionamento, legítimo, e a intimidação.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.