Descrição de chapéu
Valter Caldana

O projeto urbanístico do governo Tarcísio para a região central de São Paulo é adequado? SIM

Esplanada pode aproximar Estado da sociedade, promovendo superações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Valter Caldana

Arquiteto e urbanista com doutorado pela USP, é professor do Mackenzie e coordenador do Laboratório de Projetos e Políticas Públicas (LPP)

A cidade é o espaço privilegiado do encontro. Esta é uma das mais simples e poéticas definições de cidade, a maior e mais complexa invenção humana, onde se fundem espaço, lugar e território. Onde a humanidade se abriga, frágil e franzina, para enfrentar o vigor da natureza. Um olhar mais preciso mostra que a cidade é o território dos conflitos e contradições, sendo o encontro, de fato, o instrumento para superá-los.

Por isso, trazer o gabinete do governador de volta para o centro de São Paulo é uma ação importante. Sim, resgatar a presença e a acessibilidade do Estado e seus símbolos, aproximando-os da sociedade, explicita conflitos e contradições e promove a possibilidade de encontros e superações.

Parque Princesa Isabel (à dir.), terminal de ônibus (ao centro) e palácio Campos Elíseos, que, nos planos do governo paulista, ficarão no centro do novo conjunto de prédios do poder estadual - Rubens Cavallari/Folhapress - Folhapress

Parte de uma política pública iniciada há tempos, de tornar a área central polo administrativo e de serviços públicos, nela já se incluem a transferência do gabinete do prefeito do parque Ibirapuera para o Parque Dom Pedro e, depois, o viaduto do Chá; o restauro dos edifícios Martinelli e Sampaio Moreira; e a ocupação de prédios na rua Boa Vista por entes estaduais e municipais —além da área cultural.

Uma política que atravessou vários governos: de Mario a Bruno Covas, com imprescindíveis contribuições dos ex-prefeitos Luiza Erundina, Marta Suplicy e Fernando Haddad.

A presença de dois níveis de governo próximos e acessíveis ao cidadão é fundamental para o exercício da cidadania —e o centro é o local mais adequado para isso. A quem interessa manter o gabinete do governador num bairro residencial —o Morumbi— distante da região central, dos conflitos e contradições? A ninguém.

A proposta deve ser analisada sob essas duas perspectivas: a da cidade do encontro que supera conflitos e contradições e a de uma ação que tem antecedentes e futuro. Não como ação pontual de governo, mas como materialização dessa política pública ampla e antiga.

Se por um lado é positivo trazer de volta o governador acompanhado de habitação, da retirada do terminal de ônibus (essencial) e da instalação de outros órgãos, por outro é preciso que a operação não seja marcada por ser isolada e excludente, reproduzindo equívocos cometidos na capital. Se o risco da gentrificação é inexorável, ele não é incontornável, inevitável.

O grau de complexidade das cidades exige soluções complexas (não complicadas), múltiplas e interdisciplinares. Neste século 21, não se fala de administração sem falar de transporte, de emprego sem falar de habitação, ou de tudo isso sem falar de educação, saneamento, segurança, cultura, patrimônio histórico, preservação ambiental, saúde.

0
Palácio Campos Elíseos, que, pelos planos da gestão Tarcísio de Freitas, se tornará a sede do governo paulista - Rubens Cavallari/Folhapress - Rubens Cavallari

A palavra-chave é diversidade. Etária, social, racial, cultural, de gênero, econômica. A escala não é a monumental, de outros tempos, mas a escala humana que materializa o direito à cidade e seus benefícios. Os objetivos são qualidade de vida e respeito ambiental; os meios são inclusão e combate à desigualdade.
Insistir na grandiloquência do século 20, de megaoperações que não saem da escala do plano ou no erro recente de planejar sem projetar, é o risco. O único instrumento existente para evitá-lo é o projeto —que tem feito falta na capital.

O projeto, colaborativo, é elo, o instrumento para ligar o plano (desejo) à realidade (vida), pois traz propostas concretas, visíveis e compreensíveis para a sociedade.

São Paulo está, de novo, diante da possibilidade de um projeto concreto e eficaz. Mas precisa ter coragem de ir do planejar ao projetar a intervenção urbana. Projetar a cidade!

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.