Descrição de chapéu
Rubinho Nunes

Não se engane: Plano Diretor é avanço para São Paulo

População que não mora na Vila Madalena paga preço da infantilidade de urbanistas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rubinho Nunes

Vereador (União Brasil), é presidente da Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal de São Paulo

As cidades mais modernas do mundo têm algo em comum: a boa relação entre o planejamento urbano e a iniciativa privada. A revisão do Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo, aprovada em primeiro turno na Câmara Municipal, atende a esse anseio.

Apesar de a capital paulista ser a maior cidade da América Latina, ainda há muitas amarras que prejudicam o bom desenvolvimento econômico do município. Tivemos, muitas vezes, uma legislação excessivamente rígida. Foram várias as regras urbanísticas que tentaram frear o desenvolvimento da cidade. Isso resultou em regiões centrais com baixo adensamento populacional e uma enorme parcela da população tendo a necessidade de morar nas regiões periféricas do município. Poucos são os bairros paulistanos em que há, de fato, um adensamento similar ao das principais megalópoles globais.


A opinião de quem é contra a revisão do Plano Diretor de São Paulo é a típica visão do intelectual de gabinete, aplicada durante a fracassada gestão Fernando Haddad (PT). O resultado do mandato? Rejeição eleitoral historicamente inédita.

É incrível o descolamento da realidade do grupo de intelectuais os quais pretendem "ordenar a urbanização" paulistana. Sem dúvida, o desenvolvimento sustentável é o objetivo de todos, assim como a diminuição do uso de transporte privado. A mancha urbana de São Paulo não comporta, porém, o radicalismo das elites de Pinheiros planejando a vida do morador de Guaianazes. Metas irreais de diminuição da utilização de carros para deslocamento, como em gestões passadas, representam um dos pontos cegos dos urbanistas de classe média-alta.

A zona leste da capital é uma imensa região dormitório que abriga 4 milhões de pessoas. Essa população rotineiramente desloca-se de suas casas no Itaim Paulista, em São Mateus, em Cidade Tiradentes etc. para trabalhar nos bairros centrais. Apesar da ampliação da malha de transporte público, enfrenta metrôs e ônibus lotados diariamente em deslocamentos de horas. O mesmo para Interlagos e Jabaquara, no extremo sul da cidade.


Proibições de verticalização diminuem o adensamento e obrigam tais deslocamentos de massas. São Paulo é comparável a Nova York, Tóquio e Xangai, mas não tem arranha-céus! Logo abaixo da avenida Paulista, não se vê edifícios.

A solução certamente também não está em inundar os empreiteiros em um mar de alvarás, licenças, vedações e tombamentos sem sentido contra a verticalização. Remar neste sentido é espraiar ainda mais a mancha urbana, o que gera custos altos para integração de novos bairros, sem falar no impacto ambiental. Vem disso a disparada do preço do metro quadrado na capital, gerando menos gente com moradia. Adensar é necessário —e rápido.


São Paulo não tem condições de virar uma cidade idílica do dia para a noite por decreto. Amsterdã pode ser o paraíso da esquerda, mas ninguém com sanidade espera que trabalhadores periféricos se desloquem por vários quilômetros todo dia de bicicleta porque se pintaram faixas.

Essa é a infantilidade dos urbanistas que protestam contra a verticalização: como não lidam com as consequências do seu planejamento, podem brincar de xadrez com a população. O preço dessa imaginação fértil é pago pela população real, pragmática, que não mora na Vila Madalena. E foi devido às demandas desses paulistanos que a Câmara, com sua legitimidade democrática garantida pelo voto, respondeu. E respondeu com abertura à verticalização.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.