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Nos trilhos, enfim

Com atraso, escândalo e bilhões em gastos, Norte-Sul, privatizada, será entregue

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Terminal de transbordo em Palmas (TO) da ferrovia Norte-Sul - Karime Xavier/Folhapress

Após 36 anos desde a primeira licitação, a ferrovia Norte-Sul finalmente foi concluída. Os trechos central e sul, de 1.537 km, que ligam Estrela D’Oeste (SP) e Porto Nacional (TO), a serem geridos pela empresa Rumo, têm entrega prevista nesta sexta-feira (16).

Somando-se o trecho norte, entre Porto Nacional e Açailândia (MA), a cargo da VLI, são 2.257 km de trilhos que ao longo das últimas décadas exemplificaram todos os vícios associados a investimentos públicos no Brasil, como mau planejamento, atrasos e corrupção.

Em 1987, reportagem do jornalista Janio de Freitas nesta Folha revelou que o processo de licitação era uma farsa —já eram sabidas as empresas vencedoras antes da divulgação do resultado da disputa.

Passados 30 anos e R$ 33 bilhões, nenhum governo havia concluído a obra. Ainda pior: pelo menos um terço desse gasto nababesco até 2017 havia sido superfaturado, segundo órgãos de fiscalização.

Ao cruzar 4 das 5 regiões do país e conectar o porto de Itaqui (MA) ao de Santos (SP), a ferrovia Norte-Sul, hoje concedida ao setor privado, é essencial para o escoamento da produção agrícola.

Quatro terminais estão em operação há dois anos: um em São Simão (GO), um em Iturama (MG) e dois em Rio Verde (GO). Juntos, recebem grãos, farelo de soja, fertilizantes e açúcar. Segundo a Rumo, 4,1 milhões de toneladas de grãos foram exportados por Goiás no ano passado —25,6% do total de 16,1 milhões de toneladas.

O simbolismo político do projeto é tal que governantes chegaram a inaugurar partes não concluídas. Os petistas Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, e Dilma Rousseff, em 2014, inauguraram o trecho que conecta Palmas (TO) a Anápolis (GO), mas até 2015 essa seção de trilhos ainda estava inoperante.

Mais que ajudar na vazão da produção agrícola de regiões sem saída para o mar, como Goiás e Minas Gerais, a Norte-Sul pode contribuir para o incremento de uma malha de transporte de cargas.

À diferença de outros países de dimensões continentais, o Brasil prioriza o modal rodoviário. Segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, apenas 21,5% das cargas aqui são movimentadas por ferrovias, enquanto nos EUA e na Rússia o índice chega a 43% e 81%, respectivamente.

As carências em infraestrutura, que inibem o crescimento do país, demandarão mais associações entre os setores público e privado.

editoriais@grupofolha.com.br

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