Descrição de chapéu
O que a Folha pensa Congresso Nacional

Fraude

Caso Americanas recebe nome devido; apuração é vital para credibilidade do setor

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Fachada das Lojas Americanas, em São Paulo (SP) - Zanone Fraissat/Folhapress

Desde que eclodiu o escândalo da Americanas, em janeiro, parecia inevitável que as "inconsistências" bilionárias detectadas nos balanços da empresa acabassem por ser descritas com mais precisão como fraude. Foi o que ocorreu agora.

Na terça-feira (13), a varejista usou a palavra em comunicado de fato relevante ao mercado —e a repetiu em novo documento nesta quarta (14), ao esclarecer que "no que diz respeito aos resultados da companhia ao longo do tempo, a fraude descrita ajudou a incrementá-los em R$ 25,3 bilhões".

Em bom português, a Americanas, hoje em recuperação judicial, manipulou sua contabilidade em proporções astronômicas para obter lucros fictícios, que se converteram em dividendos para os acionistas e bônus para os diretores.

Segundo o relatório preliminar elaborado por assessores jurídicos, foram simulados acordos com fornecedores para descontos em compras em troca da exposição dos produtos em campanhas publicitárias, entre outros lançamentos irregulares nos balanços.

Detalhes à parte, é evidente que um embuste de tamanhas dimensões —os valores, aliás, podem ser maiores— não teria ocorrido sem negligência, omissão ou cumplicidade interessada de um considerável número de pessoas.

O comunicado da Americanas responsabiliza nominalmente sete dirigentes, todos já afastados de suas funções, e menciona ainda "colaboradores identificados".

Em depoimento à CPI da Câmara dos Deputados que investiga o caso, o principal executivo da companhia, Leonardo Coelho Pereira, afirmou que também há indícios de participação das empresas responsáveis por auditar os resultados. Há pressões para que o trio de acionistas de referência da Americanas seja chamado à comissão.

Tudo considerado, seria simplismo excessivo apontar que a fraude está circunscrita à esfera privada. Para além das múltiplas relações com fornecedores e credores, a varejista está listada em Bolsa de Valores —vale dizer, suas ações são oferecidas diariamente ao público, o que implica exigências legais e vigilância das autoridades.

Da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) à Justiça, investigações e punições serão cruciais para a credibilidade do mercado acionário do país. Ao Congresso Nacional caberá debater eventuais aperfeiçoamentos na legislação das sociedades anônimas, a partir de projetos já em tramitação.

A empresa, como qualquer outra, merece a chance de se recuperar com as próprias pernas. Seus fraudadores merecem o rigor da lei.

editoriais@grupofolha.com.br

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.