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Renato Freitas

O Paraná além da propaganda do governo

Por trás do 'estado do agro', muitos passam fome e não têm onde morar

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Renato Freitas

Deputado estadual (PT-PR), advogado e pesquisador nas áreas de direito penal, criminologia e sociologia da violência

O atual governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), frequentemente vem à mídia para vangloriar-se dos números positivos do estado sob sua gestão. Enquanto celebra as receitas da produção agropecuária do estado, que figura como a quarta economia do país, esconde por baixo dos panos graves problemas em setores essenciais para a população, como alimentação e moradia. Por trás do "Paraná do agro", há um estado que passa fome e não tem onde morar.

Dados de 2022 do Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar revelam uma realidade assustadora: 53% dos lares paranaenses enfrentam algum nível de insegurança alimentar. Comparado aos outros estados da região Sul, o Paraná apresenta a maior disparidade, com números superiores aos de Santa Catarina (40,6%) e Rio Grande do Sul (47,6%).

O deputado estadual Renato Freitas (PT) durante sessão plenária na Assembleia Legislativa do Paraná- Dálie Felberg - 14.fev.23/Alep

Os índices ficam ainda piores quando são feitos outros recortes. Em domicílios com presença de crianças menores de dez anos, a insegurança alimentar atinge 57% dos lares. Já entre as casas com rendimento mensal per capita de até meio salário mínimo, a taxa de insegurança alimentar chega a assombrosos 78%. E estima-se, ainda, que 8% da população paranaense —quase 1 milhão de pessoas— enfrenta a insegurança alimentar em seu nível mais grave, passando fome diariamente.

Essas estatísticas por si só já seriam alarmantes, mas quando nos deparamos com a disparidade da riqueza agrícola do estado, a perplexidade se transforma em revolta. Em 2022, o valor bruto da produção agropecuária atingiu a marca de R$ 1,189 trilhão, sendo o segundo maior valor em 34 anos de cálculo desse indicador. As lavouras faturaram R$ 814,77 bilhões, enquanto a atividade pecuária somou R$ 374,27 bilhões. Como é possível aceitar a coexistência de uma riqueza agrícola tão abundante com a fome que assola tantas famílias paranaenses?

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O governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), em entrevista à Folha em seu gabinete, em Curitiba - Theo Marques - 11.jan.19/Folhapress - Folhapress

Para além da fome, nosso estado enfrenta ainda outro problema: um enorme déficit habitacional. Levantamento recente realizado pela Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) revela um déficit habitacional de ao menos 511.746 domicílios. E se engana quem pensa que a falta de moradia atinge somente a população urbana. Enquanto nossas paisagens rurais tornam-se grandes latifúndios de soja para exportação, o déficit habitacional atinge quase 40 mil famílias no campo.

Um estado verdadeiramente rico não é aquele que apresenta os maiores lucros, mas sim o que distribui sua riqueza de forma eficiente. E não é isso que vemos hoje no Paraná. A realidade aqui é outra: concentração de terras, fortunas e poder político nas mãos das mesmas famílias. As mesmas que depois tentam vender a imagem de um estado próspero.

É preciso dar um basta nessas falsas propagandas e enfrentar nossas mazelas com a seriedade e transparência que elas demandam.

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