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Edson S. Moraes

Financiar a velhice é tarefa dos jovens

Planejamento exige reflexão pessoal e ações políticas para um país mais idoso

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Edson S. Moraes

Mestrando em ciências do envelhecimento, é consultor de estratégia e conselheiro empresarial

Vivemos em uma sociedade que deseja envelhecer, mas muitas pessoas não consideram a preparação para essa fase da vida. O envelhecimento é um processo natural e importante, e a forma como nos preparamos para essa fase pode determinar a qualidade de vida durante a velhice.

Comparar a realidade de uma pessoa que se preparou financeiramente com a de outra que não evidencia a importância do planejamento prévio ao longo da vida. Com o passar dos anos, diversos fatores, como declínio da saúde física, redução da energia e resistência, limitações sensoriais, aposentadoria forçada ou restrição das ofertas de trabalho devido ao etarismo comprometem a obtenção de renda.

mãos de homem idoso digitando em teclado
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A preparação financeira para o envelhecimento deve ser um tema de extrema relevância na sociedade contemporânea, especialmente para os jovens. Com a expectativa de vida aumentando significativamente, a redução progressiva da natalidade e as pressões sobre a previdência, é fundamental ter um mínimo de planejamento para buscar uma vida relativamente confortável e segura na velhice.

Uma pessoa que se preparou financeiramente adotou medidas como poupança regular, investimentos e planejamento previdenciário. Mesmo que de forma mais modesta, é possível constituir alguma reserva para complementar uma eventual renda de aposentadoria, ampliando as chances futuras de maior autonomia.

Por outro lado, uma pessoa que não se preparou financeiramente para envelhecer está mais suscetível a enfrentar dificuldades na velhice. Sem uma reserva financeira adequada, poderá ter limitações significativas nas escolhas, dependência de familiares, restrições em relação aos serviços de saúde e impacto negativo na qualidade de vida.

Um estudo publicado em abril deste ano pelo Banco Mundial em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) lista dez propostas de reformas de médio prazo para enfrentar os desafios da assistência social, do trabalho e da previdência nas próximas duas décadas. Uma dessas propostas é a expansão, reformulação e redirecionamento de programas ativos de mercado de trabalho.
Muitas pessoas não se preparam para a aposentadoria por falta de conhecimento sobre planejamento financeiro ou devido a prioridades de curto prazo que dificultam a gestão de recursos com objetivos futuros. Esse cenário pode gerar dependência de programas governamentais de assistência social, dificuldades para os familiares e comprometer a saúde.

É fundamental que as pessoas busquem conhecimento sobre educação financeira, estabeleçam metas de poupança, invistam em planos de previdência e pensem sobre seu futuro financeiro desde cedo. Essas medidas podem fazer a diferença entre uma velhice confortável e uma marcada por dificuldades e dependência.

No âmbito social, é necessário trabalhar na transformação cultural necessária para ampliar a contratação de pessoas mais velhas. Segundo o relatório da OCDE "Recomendações Sobre Políticas de Envelhecimento e Emprego", de junho de 2022, é necessário fortalecer as oportunidades para que os trabalhadores construam carreiras mais longas e continuem trabalhando em idades mais avançadas. Isso pode ser alcançado por meio de incentivos financeiros para trabalhar por mais tempo e influência nas normas sociais sobre o trabalho tardio na carreira, transformando o comportamento de empregados e empregadores.

O assunto exige uma reflexão profunda e o engajamento político necessário para uma transformação da sociedade. Enquanto as políticas públicas não forem suficientes para garantir um padrão de vida mínimo para toda a população, o planejamento pessoal deverá ser estimulado. Sabe-se que, se o tema não é simples para quem tem condições de se preparar para o envelhecimento, imagine para quem vive com recursos escassos.

Mesmo àqueles que não tenham se preparado para essa fase da vida, sempre haverá a oportunidade de discutir o tema com filhos, netos e amigos, evitando que a negação à velhice e suas complexidades afetem as próximas gerações.

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