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O que a Folha pensa

Lula do centrão

Aumento da participação do grupo no governo provê moderação, mas enseja riscos

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Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados - Adriano Machado/Reuters

O presidencialismo de coalizão é uma solução de governança em sistema multipartidário para situações em que a chapa eleita para o Executivo não tem maioria no Congresso. No Brasil, elas ocorreram em 100% dos pleitos desde 1989.

Os governantes que navegaram contra essa corrente enfrentaram dificuldades que variaram de contratempos pontuais ao impeachment. Jair Bolsonaro (PL) cometeu esse erro no início da gestão e depois, ameaçado, teve de entregar anéis e dedos ao centrão.

Parece vir desse aglomerado de parlamentares interessados sobretudo na sua sobrevivência regional a novidade política do segundo semestre da administração Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ensaia-se um embarque substancioso do grupo no governo.

Confirmado o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) no Ministério do Turismo, as conversas avançam para abarcar duas grandes legendas que apoiaram Bolsonaro em outubro —Republicanos e o PP de Arthur Lira, presidente da Câmara e pivô do centrão.

A válvula de ajuste óbvia para essa reacomodação ministerial seria diminuir o espaço dos nomeados do PT no governo, que hoje povoam a Esplanada em proporção muito maior que a sua força no Congresso. Daí a grita de petistas ameaçados de perder cargos.

Para Lula, francamente minoritário entre deputados e senadores e testemunha dos solavancos enfrentados em razão de déficit parlamentar por gestões petistas no passado, a barganha faz todo o sentido. Para o centrão, as vantagens são autoevidentes.

Para o país, esse acordo político significaria elevar o teor de moderação e diluir os radicalismos de esquerda. Terá, por exemplo, mais dificuldades de vingar na agenda central do governo o voluntarismo intervencionista na economia, hoje albergado no BNDES.

Mas essa regra geral comporta riscos que não deveriam ser ignorados. O centrão, vale lembrar, foi sócio destacado da aventura populista que esvaziou teto de gastos federais a partir da segunda metade da gestão Bolsonaro.

Como operam preferencialmente sob a lógica pequeno-oligárquica, os parlamentares do bloco são vetores frequentes de lobbies à caça de privilégios por meio de regulações e contratos estatais. Daí para a corrupção, é um pequeno passo.

Sem a coordenação de lideranças que pelejem pelos direitos difusos daquelas pessoas pobres ou distantes demais do poder para se defender, de pouco adianta consolidar uma sólida maioria parlamentar.

É fundamental que Lula exerça esse papel articulador, desça do palanque e esclareça quais são as prioridades de seu mandato. Centrão sozinho não dá rumo.

editoriais@grupofolha.com.br

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