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Ruídos na Otan

Cúpula é derrota para Putin, mas apoio à Ucrânia gera fissuras no Ocidente

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Chefes de Estado durante a reunião de cúpula da Otan, em Vilnius (Lituânia) - Kevin Lamarque/Reuters

A segunda reunião de cúpula da Otan desde que Vladimir Putin invadiu a Ucrânia acabou nesta quarta (12) com a celebração da unidade da aliança militar criada pelos Estados Unidos, em 1949, para conter o avanço de Moscou.

Porém o discurso amigável não disfarçou o amargor expresso pelo convidado de honra do evento em Vilnius (Lituânia), o presidente ucraniano Volodimir Zelenski.

Ele já havia dito ser "absurdo" a Otan não oferecer sequer um cronograma para adesão de seu país ao rol de 31 membros, que gozam da proteção dos pares em caso de conflito, quanto mais um convite.
Zelenski tensiona um debate já conhecido: a Otan não teria como fazê-lo sem o risco de radicalizar o cizânia entre o órgão e a Rússia.

Apesar de alguns recuos táticos, ao agradecer a novos anúncios de armas ocidentais para sua até aqui claudicante contraofensiva, o mandatário voltou à crítica.

Sobrevieram então nesgas de sinceridade dos presentes. O presidente tcheco, Petr Pavel, disse que o fastio ocidental e a campanha eleitoral americana de 2024 dão uma janela estreita para Kiev ter algum ganho militar antes de ser forçada a negociar a paz.

Mais duro, porém, foi o secretário de Defesa britânico, Ben Wallace, que criticou a falta de gratidão de Zelenski pelas armas recebidas.

"Sabe, nós não somos a Amazon", disse, comparando a Otan à gigante das encomendas online. Ele foi secundado por Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional do americano Joe Biden, que também pediu agradecimento ao ser admoestado por um ativista ucraniano.

Nada disso é bom para Zelenski, que enfrenta dificuldades para romper defesas russas. Pior, tais fissuras deixam de capitalizar o mau momento de Putin, que acaba de enfrentar um motim mercenário.

De substantivo, a cúpula trouxe renovada promessa da Turquia de aprovar a autorização para que a Suécia integre a Otan, no que será seguida pela aliada Hungria.

É uma jogada do presidente Recep Tayyip Erdogan, que se divide entre boa relação com Putin e a necessidade de ter caças americanos e, talvez, vaga na União Europeia.

Confirmada a promessa, o Kremlin verá dois países nórdicos do Mar Báltico —Finlândia entrou em abril— unindo forças contra a Rússia após 302 anos de status quo na região em favor de Moscou.

Para quem invadiu o vizinho para conter a expansão da Otan, é um desastre. Em outro revés, sua aliada China foi criticada como sempre, mas poupada de escaladas adicionais pelos parceiros europeus.

Com isso, é sugerida uma dinâmica no cenário da crise mundial para os próximos meses, ainda que a realidade recomende cautela extrema com essas projeções.

editoriais@grupofolha.com.br

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