A morte de José Celso Martinez Corrêa subtrai da cena cultural brasileira uma personalidade exuberante, que permanecia inquieta e em atividade aos seus 86 anos.
Nome de enorme relevância na dramaturgia e na cultura do país, o criador do grupo Oficina era ele mesmo, em sua presença dionisíaca, a alma e a ativação das ideias estéticas e políticas que encenava com inventividade revolucionária.
Criado no final da década de 1950, com participação de nomes como Renato Borghi e Fauzi Arap, o teatro Oficina marcou época em 1967 com a apresentação de "O Rei da Vela", peça escrita pelo modernista Oswald de Andrade nos anos 1930.
Numa explosão de referências e alegorias, que iam do universo operístico ao circense, passando pelo teatro de revista, a montagem tornou-se um clássico do tropicalismo —movimento estético que eclodiu na música popular com Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Foi uma época em que a efervescência da produção cultural viu-se diante da onda autoritária que se seguiu ao golpe militar de 1964.
A encenação, sob a direção de Zé Celso, da peça "Roda Viva", em 1968, a primeira escrita por Chico Buarque, foi alvo de violentas agressões por parte de grupos da direita reacionária. O teatro já havia sido consumido por um incêndio, em 1966, que o diretor atribuiu a apoiadores do regime.
Com a promulgação do AI-5, em dezembro de 1968, e o endurecimento da repressão política, as prisões se sucederam e muitos foram forçados ao exílio.
Foi o caso do diretor, que, após ser preso e torturado por agentes da ditadura, deixou o país em 1974 para viver em Portugal. No período de desterro, realizou o filme "25", com Celso Lucas, sobre a independência de Moçambique e questões relativas ao futuro pós-colonial.
De volta ao Brasil, em 1978, retomou as atividades do Oficina, renovou suas experiências teatrais e esteve sempre presente na vida artística e política do país.
O diretor deixa um legado que se ressentirá de sua animação vital, mas que permanecerá na história e na atuação de gerações de artistas, encenadores e admiradores que ele formou e influenciou ao longo de décadas.
O prédio do Oficina, com projeto da arquiteta Lina Bo Bardi, ganhou reconhecimento internacional e será mantido como patrimônio arquitetônico e cultural tombado pelo estado e pela cidade de São Paulo. Evoé, Zé Celso!
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