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Reacomodação

Lula e Tarcísio dão sinais de pragmatismo enquanto país debate reformas cruciais

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Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, e Fernando Haddad, ministro da Fazenda - Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Observou-se nos últimos dias uma reacomodação de forças na política brasileira. Abandonaram-se, ao menos por ora, o radicalismo estridente, a ideologia rasteira e o sectarismo infértil em favor de uma agenda promissora para o futuro.

Foram gestos pequenos, não grandiloquentes; indicam retorno à média, não transformação profunda; decorrem de cálculo pragmático, não da busca de um ideal. Talvez seria pouco alhures, mas não num Brasil após quatros anos de Jair Bolsonaro (PL).

Partiram, esses gestos, de dois nomes que, no atual cenário, despontam como possíveis antagonistas na eleição de 2026: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo.

Derivou de Tarcísio a iniciativa mais inusitada. A princípio contrário ao projeto de reforma tributária que tramita no Congresso, mudou de posição após uma conversa republicana com o petista Fernando Haddad, ministro da Fazenda.

O governador de São Paulo foi além. Durante reunião do PL, defendeu o texto da reforma diante do inelegível Bolsonaro, com quem teve um desentendimento público.

Tarcísio entendeu que o país tem muito a ganhar com um novo marco tributário, a ponto de essa discussão ultrapassar as fronteiras estreitas da disputa partidária. O ex-presidente assumiu uma posição sectária contra a proposta, baseado em argumentos primários.

Já Lula deu a Haddad o respaldo necessário para fazer avançar a pauta econômica, baseada, ademais da reforma tributária, na nova regra fiscal. Foram mais do que boas conversas e muitos rapapés, dos quais políticos não abrem mão; o apoio incluiu esforços concretos para montar, no Congresso, uma base capaz de aprovar as propostas.

O governo de esquerda precisa acostumar-se a lidar com um Legislativo de outra vertente. A aproximação demanda, por exemplo, ceder em certas ideias para conquistar um acordo em algum ponto entre os extremos —nada mais que uma negociação, que Lula conhece bem, mas o PT, nem tanto.

O pragmatismo também reúne aspectos problemáticos. Envolve uma liberação recorde de emendas às vésperas das votações importantes, que ameaça a qualidade do gasto público, e um rearranjo nos ministérios, a fim de assegurar a fidelidade de legendas estratégicas —caso da União Brasil e seu pleito pela pasta do Turismo.

Há, sem dúvida, algo a lamentar nessas barganhas e um tanto a comemorar nas negociações. Salvo pela possibilidade de a reforma tributária andar, nada disso é novidade na política brasileira. Pouco importa. Se superada a polarização estéril, a normalidade tem o peso de uma revolução.

editoriais@grupofolha.com.br

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