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Amadorismo

Recuo de Tarcísio nos livros didáticos mostra governador pouco convicto

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Manifestação de professores pela volta dos livros didáticos do PNLD às escolas paulistas - Danilo Verpa/Folhapress

A administração pública de um estado populoso e relativamente rico como São Paulo pode ser comparada a um transatlântico. O governante, no timão, precisa planejar muito bem e com grande antecedência as manobras relevantes que deseja fazer para que elas aconteçam satisfatoriamente à frente.

Contrariando o histórico de aluno exemplar das escolas por que passou na mocidade, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) demora a absorver essa lição. O que ocorreu no episódio dos livros didáticos foi amadorismo.

Em 31 de julho esta Folha revelou que a secretaria estadual da Educação abrira mão dos livros físicos, distribuídos gratuitamente e custeados pelo governo federal, para alunos de 11 a 14 anos, no ciclo final do ensino fundamental. A motivação anunciada da decisão foi a de passar a adotar unicamente o material digital elaborado por pedagogos da burocracia estadual.

Supõe-se que alteração com tamanho impacto, que afetaria a rotina de 1,4 milhão de estudantes e seus mestres, haveria de estar bem debatida e consolidada internamente. O governo deveria estar convicto do rumo a tomar e preparado para lidar com fortes ondas de contestação, inclusive judiciais, que decerto viriam. Não estava.

Em menos de 20 dias, tudo foi revertido como se não houvesse se passado. Bastou a primeira liminar na Justiça para derrubar de vez a, pelo visto, fragilíssima motivação do governador para seguir adiante com o plano. São Paulo vai aderir ao programa do livro didático.

Está correta, ao menos em teoria, a intenção do governador e de seu secretário da Educação, Renato Feder, de, pela incorporação de tecnologia interativa, modernizar as aulas na rede estadual para despertar maior interesse dos alunos.

Tampouco há debate sobre a necessidade de assegurar a absorção por todos os estudantes dos conteúdos fundamentais para sua idade e etapa escolar. O material didático precisa mesmo ser aperfeiçoado para ajudar os professores a cumprirem essa missão.

O processo, no entanto, deve ser conduzido às claras e com atenção à experiência acumulada. Cumpre assegurar a qualidade e a eficiência das apostilas digitais ou impressas, além de conquistar na prática a ampla adesão do corpo docente à orientação da secretaria.

A pergunta fundamental é se abrir mão repentinamente dos livros físicos didáticos gratuitos ajudaria, em alguma medida importante, a alcançar esses objetivos.

A resposta é, obviamente, negativa. O problema é o governo ter chegado a ela por meio do desgaste público, e não pela diligente e tempestiva análise dos planos e das prioridades da gestão num terreno tão estratégico como a educação.

editoriais@grupofolha.com.br

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