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Democracia em jogo

Ação de Trump contra eleição, similar à de Bolsonaro, terá julgamento histórico

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Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos - Sergio Flores/AFP

Donald Trump ouviu em uma corte federal americana em Washington, na quinta-feira (3), os termos de seu indiciamento pela acusação de tentar reverter a derrota sofrida para Joe Biden no pleito de 2020.

Noves fora o ineditismo de ver um ex-presidente americano sendo acusado de conspirar contra a democracia de 247 anos, havia um certo senso de déjà-vu. Afinal, este é o terceiro indiciamento e a segunda passagem de Trump por uma corte em meros quatro meses.

O rol das acusações —duas de defraudar os Estados Unidos e direitos (penas máximas de 5 anos), e outras duas acerca de obstrução de Justiça (até 20 anos de cadeia em cada)— era conhecido.

Fora esmiuçado no inquérito congressual sobre os fatos que levaram ao 6 de janeiro de 2021, quando apoiadores de Trump deixaram um comício com ele para depredar o Capitólio, que se reunia para referendar a vitória de Biden.

Ainda assim, não se trata de comprar o silêncio de uma mulher na campanha de 2016 ou de esconder documentos secretos em sua propriedade, objetos dos outros casos.

Trata-se de discutir a democracia americana, questionada hoje por regimes como China e Rússia.

Claro que tudo depende de qualidade de provas e da interpretação de juízes, mas o que está em questão é a essência do sistema: pode alguém eleito dentro de suas regras trabalhar, com recurso até à violência, para subvertê-lo?

A resposta de Trump, de que sofre perseguição e que os eleitores o julgarão em 2024, é perigosíssima por alijar o contrapeso judicial do processo democrático.

O cenário ganha tintas sombrias quando pesquisas mostram Trump favorito para ganhar a indicação republicana, além de estar empatado com Biden na disputa.

Não só para os EUA. Como a hélice dupla de um DNA perverso de populismo direitista, Trump e Jair Bolsonaro (PL) seguiram juntos na espiral de ascensão e queda.

Usualmente com dois anos de atraso, a rota percorrida pelo brasileiro emulou de forma notável à do americano, da vitória impensável aos apoiadores destruindo edifícios, passando pelo questionamento do sistema eleitoral.

O cipoal de acusações contra Bolsonaro é mais variado —vai do 8 de janeiro ao caso do hacker a serviço de seus aliados. Mas, por aqui, a Justiça Eleitoral já o declarou inelegível até 2030. Nos EUA, Trump pode concorrer até preso.

O impacto do indiciamento ainda precisa ser avaliado, mas tudo sugere que o populismo está pronto para mais um desafio nos EUA, com naturais repercussões globais.

editoriais@grupofolha.com.br

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