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O que a Folha pensa desigualdade de gênero

Disparidade doméstica

Mulheres têm mais tarefas no lar do que homens, o que as prejudica no mercado

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Mãe lava a louça enquanto seu filho brinca, em Paraisópolis, zona oeste de São Paulo (SP) - Joel Silva - 17.nov.15/Folhapress

Dados do IBGE de 2022 mostram que 40,69% das mulheres com três filhos ou mais não conseguem trabalhar, ante apenas 0,62% dos homens na mesma situação. Mesmo com apenas um filho, o abismo entre mães e pais se verifica, com 21,89% e 0,55%, respectivamente.

Essa diferença abissal se explica, em grande parte, pela permanência de práticas culturais que relegam às mulheres os cuidados da casa, dos filhos e de familiares.

Segundo o módulo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) que analisa atividades não remuneradas, as brasileiras dedicaram 9,6 horas por semana a mais a tarefas domésticas do que os brasileiros em 2022. Elas usaram 21,3 horas para administrar o lar, e eles, só 11,7.

Ademais, o único tipo de serviço que recebe mais dedicação masculina é esporádico: 60,2% deles realizam consertos na casa, no carro e em eletrodomésticos. Já as mulheres são maioria significativa em tarefas cotidianas, como cozinhar e lavar louça (95,7%), limpeza das roupas (92,3%) e da casa (82,6%).

De acordo com Claudia Goldin, primeira mulher professora titular no departamento de economia da Universidade Harvard e uma das maiores especialistas sobre a relação entre gênero e trabalho, a disparidade ocupacional e salarial entre homens e mulheres se deve pouco ao preconceito e muito a mudanças na atividade econômica.

Com jornadas de trabalho mais flexíveis, os empregados capazes de se dedicarem por mais tempo ao emprego passaram a ser mais valorizados. Por não darem tanta atenção ao lar, homens ocupam cargos com melhor remuneração —que têm carga horária maior, prazos rígidos ou exigência de viagens.

Quando não acabam por desistir da carreira, muitas mulheres precisam escolher ocupações que requerem menos tempo de dedicação e, em consequência, oferecem remuneração menor.

Assim, tentar resolver o problema somente com a criação de leis, como a que aumenta a punição para diferença salarial, recentemente proposta pelo governo e aprovada pelo Congresso, é tarefa inglória.

Para diminuir a disparidade de gênero, é necessária mudança cultural em torno das tarefas domésticas e corporativas. Também é premente a criação de uma robusta rede pública de creches e, no âmbito legislativo, a discussão de licenças parentais no pós-parto que permitam a divisão do tempo dedicado ao cuidado do filho pelo casal.

editoriais@grupofolha.com.br

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