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Educar desde o berço

Matrículas em creches aumentam, mas falta alcançar meta e garantir qualidade

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Bebês brincam em creche municipal no bairro Bela Vista, em São Paulo (SP) - Rubens Cavallari/Folhapress

Segundo o Censo Escolar 2022, O número de matriculas em creches no Brasil aumentou. No ano passado, foram 3.935.689, o que representa 36% das crianças até 3 anos —alta de 4% em relação a 2019 e de 5% ante os dois anos da pandemia.

O avanço é contínuo —em 2005 eram apenas 17%. É lento, porém. Ainda estamos distantes da meta do Plano Nacional de Educação (PNE), que é de 50% em 2024. A matrícula escolar só é obrigatória a partir dos 4 anos de idade, mas creches desempenham um papel importante não só na educação.

Uma pesquisa do americano James Heckman, prêmio Nobel de economia, revelou que pessoas que recebem atendimento pedagógico entre 0 e 4 anos de idade ficam mais motivadas para os estudos ao longo da vida e têm mais chances de conseguir emprego.

Isso porque, nesse estágio do desenvolvimento infantil, o cérebro em formação é capaz de criar conexões neurológicas que facilitam cognição, aprendizagem, sociabilidade —e que perduram ao longo da vida. No entanto estar matriculado não é suficiente. O diferencial está nos estímulos recebidos.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a creche no Brasil funciona mais como serviço de assistência (higiene e alimentação) do que de educação. O motivo é a escassez de recursos para contratar e capacitar profissionais, adquirir brinquedos e livros e montar espaços de interação diversificados.

Por isso, o desafio nacional é duplo: aumentar o número de vagas e melhorar a qualidade do atendimento. Mesmo assim, deve-se enfrentá-lo, também para diminuir desigualdades sociais e de gênero.

Como em outras áreas da educação, famílias com maior poder aquisitivo têm acesso mais fácil a creches de melhor qualidade, enquanto as pobres aguardam em longas filas por vagas em estabelecimentos precarizados —problema que impacta ainda mais as mães.

De acordo com pesquisa do IBGE publicada em 2021, apenas 54,6% das mulheres que vivem com crianças de até 3 anos conseguem trabalhar —ante 89,2% dos homens na mesma situação. O percentual sobe para 67,2%, no caso de mulheres sem crianças nessa faixa etária, e cai para 49,7% quando são negras.

Investir em creches, e na educação infantil de um modo geral, não apenas melhora a aprendizagem como é um mecanismo que aumenta a produtividade e reduz desigualdades. Os países desenvolvidos já aprenderam essa lição.

editoriais@grupofolha.com

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