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7/9 de volta

Sequestrada sob Bolsonaro, data precisa se converter em momento de união

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Iluminação no Congresso Nacional alusiva ao 7 de setembro, em Brasília (DF) - Audiovisual/PR

O Brasil, se tudo correr bem, voltará a ter neste 7 de Setembro um feriado normal, uma data festiva para comemorar a Independência que ora completa 201 anos e um momento de reflexão sobre o futuro que se espera para o país.

Num gesto trivial, mas que soa louvável na comparação com o governo anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu como slogan das celebrações uma tríade oportuna para a conjuntura: democracia, soberania e união.

Pretende-se, com o destaque aos três conceitos, ressaltar o caráter cívico de um evento por vezes marcado pela militarização, alardear a preservação da floresta amazônica como sinal de autoridade territorial e reforçar o sentido de congraçamento por trás dessa festividade.

Não há como negar o acerto simbólico dessas escolhas, todas em direção oposta à dos últimos anos.

Durante a gestão Jair Bolsonaro (PL), foram constantes os ataques ao Estado democrático de Direito, às áreas de proteção ambiental e às tentativas de conciliar os diversos pontos de vista de uma sociedade complexa como a brasileira.

Chegou-se ao extremo, em 2021, de fazer do 7 de Setembro uma oportunidade para ameaçar o Supremo Tribunal Federal, incitar os cidadãos a desobedecer decisões de magistrados e propalar seu pendor cesarista ao bradar que só sairia morto da Presidência da República.

No ano seguinte, Bolsonaro sequestrou o feriado para propósitos eleitorais, como se a data, em vez de se prestar ao debate entre diferentes setores que buscam alguma coesão, pudesse ser transformada em palanque para fins particulares e divisionistas.

Ainda que seja inevitável —embora não elogiável— que um governante utilize ocasiões dessa natureza para realçar temas caros à sua administração, é indefensável fazê-lo na forma de um ato explícito de campanha e inaceitável que o objetivo seja alimentar o sectarismo e estimular o golpismo.

É claro que Lula sabe de tudo isso. As luzes da ribalta, contudo, podem cegar até os mais experientes artistas, e o petista já demonstrou, reiteradas vezes, que não está imune a tropeçar nas próprias palavras diante de um microfone.

Por mais que o ambiente político pareça desanuviado, convém lembrar que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o Exército e a Polícia Militar acionaram o alerta para a movimentação de bolsonaristas —em parte, sem dúvida, em reação à infâmia do 8 de janeiro.

O momento ainda é de cautela, e Lula não pode se esquecer disso. Sua atuação neste 7 de Setembro precisa ser, mais do que nunca, impecavelmente institucional, sem espaço para arroubos partidários ou escorregões retóricos.

editoriais@grupofolha.com.br

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