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O que a Folha pensa saúde mental

Estressadas, e com razão

Políticas públicas podem sanar injusta dupla jornada de trabalho das mulheres

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Mãe divide trabalho doméstico com cuidado do filho de 9 meses, na zona oeste de São Paulo (SP) - Joel Silva/Folhapress

O avanço social das mulheres a partir da segunda metade do século 20 não foi acompanhado por políticas públicas e mudanças culturais que se adaptassem a essa transformação no papel do gênero feminino.

Elas lutaram para entrar no mercado de trabalho, mas continuaram sendo as principais responsáveis por tarefas domésticas e cuidados com familiares. O resultado é uma dupla jornada de trabalho que impacta a saúde mental desse estrato da população.

Segundo levantamento da ONG Think Olga, 13,3 mulheres a cada 100 mil habitantes no mundo sofrem com transtornos psicológicos, ante 11,9 homens. No Brasil, a diferença é ainda maior, com 19 e 14,5, respectivamente.

A pesquisa constatou que 55% delas se sentem ansiosas e 49%, estressadas; 45% já foram diagnosticadas com ansiedade ou depressão.

Ademais, 86% das brasileiras afirmam ter sobrecarga de responsabilidades, 48% vivem com problemas financeiros e 57% das que têm entre 36 e 55 de idade são responsáveis pelo cuidado direto de alguém.

Dados do IBGE de 2022 respaldam esses resultados. Se 40,69% das mulheres com três filhos ou mais não conseguem trabalhar, apenas 0,62% dos homens estão nesta situação —mesmo com apenas um filho, o abismo é de 21,89% e 0,55%. As brasileiras usam 21,3 horas por semana para administrar o lar e eles, só 11,7.

O impacto da maternidade, do cuidado com idosos —que também recai sobre as mulheres— e das tarefas domésticas geram a sobrecarga relatada pelas entrevistadas, dificuldade para conseguir emprego e baixos salários que geram insegurança financeira.

Estudos da pesquisadora Claudia Goldin, vencedora do prêmio Nobel de Economia neste ano, mostram que a dupla jornada de trabalho feminina, notadamente com a maternidade, faz com que as mulheres optem por empregos com jornadas menores ou mais flexíveis, que tendem a pagar menos do que aqueles que exigem dedicação em tempo integral.

Assim, além de dar foco às mulheres na atenção básica do SUS, para detectar sintomas de problemas mentais em seu nascedouro, são necessárias ações nas causas.

No âmbito cultural, homens devem compartilhar tarefas domésticas. Já na seara pública, pode-se estender a licença paternidade e ampliar a rede pública de creches —só 36% das crianças de até 3 anos no país nelas estão matriculadas.

editoriais@grupofolha.com.br

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