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Muro da discórdia

Em meio à crise imigratória, Biden retoma barreiras que criticava na fronteira

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Imagem aérea mostra imigrantes esperando ao lado de muro na região de El Paso, no Texas, na fronteira com o México - Patrick T. Fallon - 11.mar.23/AFP - AFP

Não bastasse o pouco entusiasmo com a pré-candidatura à reeleição até entre pares democratas, Joe Biden anunciou que retomará as obras do famigerado muro na fronteira entre EUA e México —um símbolo divisionista do governo Donald Trump, que novamente poderá ser o rival republicano na corrida presidencial de 2024.

O constrangimento é considerável. Atendendo a uma promessa de campanha, um dos primeiros atos de Biden ao chegar à Casa Branca, em 2021, foi interromper o avanço das barreiras que hoje perfazem, não linearmente, pouco mais de um terço dos 3.142 km que separam os dois países.

Ele dizia, à época, que desfazia um desperdício de dinheiro.

Movido ou não pelo recrudescimento da crise imigratória, Biden capitulou. Por imposição legal, alega seu governo, recursos já reservados ao muro em anos anteriores (cerca de US$ 190 milhões) não poderiam ser realocados em outros projetos. Questionado se o investimento agora seria mais eficaz, o mandatário foi categórico: "Não".

Faltam detalhes sobre o alcance da empreitada. Sabe-se, entretanto, que parte da construção atenderá o condado de Starr, no Texas —a pequena cidade de Eagle Pass chegou a receber 2.500 migrantes em apenas um dia, o que fez o prefeito declarar estado de emergência.

Não é de hoje que Biden tem sofrido pressões, inclusive entre aliados, para conter o crescente fluxo imigratório ilegal. Exemplo prático é a volta das deportações de venezuelanos para Caracas após acordo com a ditadura sul-americana.

Nada menos que 2,2 milhões de pessoas foram detidas, de outubro de 2022 a agosto passado, cruzando a fronteira sul dos EUA. A questão, não há dúvida, será central nas eleições que se avizinham.

Adversários republicanos, Trump incluído, vão além do muro e defendem ocupação militar em áreas críticas, também com o intuito de neutralizar os cartéis do tráfico.

Edificações do tipo são, no máximo, paliativos arcaicos para um colossal desafio deste século.

Deslocamentos humanos, de imigrantes ou refugiados, ganham impulso em todo o planeta provocados por razões sociais e econômicas, violações de direitos humanos, instabilidade política, conflitos armados e, mais recentemente, desastres naturais e mudanças climáticas.

É complexa a tarefa de equilibrar segurança nacional com valores humanitários, o que inclui reformas nas políticas imigratórias e de acolhimento e ampla cooperação internacional. Lidar com a questão, contudo, exige transpor barreiras, não erguê-las.

editoriais@grupofolha.com.br

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