Descrição de chapéu
Marco Antonio Carvalho Teixeira

Tabata traz novos contornos à corrida paulistana

Boulos versus Nunes no 2º turno seria melhor para ambos; deputada pode ser empecilho

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marco Antonio Carvalho Teixeira

Cientista político, é doutor em ciências sociais (PUC-SP) e professor da FGV-Eaesp, onde coordena o Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas; pesquisa tribunais de contas e os controles sobre a administração pública

A disputa pela Prefeitura de São Paulo movimenta projetos de poder que movem a política nacional. Está em jogo o comando de 11,5 milhões de habitantes, um Orçamento que só não é maior que o do governo federal e dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e um cargo com potencial para transformar o seu prefeito em virtual candidato ao governo paulista e/ou à Presidência da República.

Desenha-se para 2024 uma disputa repleta de novidades. O PT, pela primeira vez, não terá candidato próprio. O PSDB, vencedor de 2016 e 2020, também não. Jair Bolsonaro (PL) vê definhar seu prestígio eleitoral: pesquisa Datafolha apontou que 68% dos paulistanos rejeitariam um candidato indicado por ele. Na mesma sondagem, um postulante apoiado por Lula (PT) seria rejeitado por 37%, ante 46% se indicado pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

da esquerda para a direita: Guilherme Boulos (PSOL) Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB)
Montagem mostra os pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB) - Zanone Fraissat, Karime Xavier e Greg Salibian/Folhapress

Três nomes são presenças certas na disputa: Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito; Guilherme Boulos (PSOL), deputado federal; e Tabata Amaral (PSB), também deputada. A possibilidade de Kim Kataguiri ser lançado pelo União Brasil é quase nula. Lideranças da legenda na cidade apoiam a reeleição de Nunes.
Com 24% das intenções de voto no mesmo levantamento, o prefeito faz um malabarismo perigoso pelo apoio de Bolsonaro, a quem chamou de "democrata" em recente entrevista à Folha.

Na contramão do resultado eleitoral de 2022 em quase todo o estado, a capital deu a Lula e a Fernando Haddad, que concorria ao governo, vitórias nos dois turnos e fez de Boulos o campeão de votos para deputado federal, com 7,68% dos votantes. O MDB, partido de Nunes, tem pouca projeção eleitoral na cidade. Já o PSDB, que participa de sua gestão e pode apoiá-lo, nem chegou ao segundo turno no ano passado. O êxito do emedebista dependerá dos efeitos eleitorais de ser candidato à reeleição numa cidade por ele transformada num canteiro de obras, além do apoio de líderes religiosos e de parlamentares com forte projeção nas áreas mais populosas.

Líder da pesquisa com 32% dos votos, Boulos demonstra fôlego para chegar ao segundo turno. A ausência do PT na competição, fruto de um acordo dos petistas com o próprio deputado em 2022, transformou Lula em seu principal cabo eleitoral —e terá maior peso se o adversário for Nunes. Pesa a favor do psolista o desempenho obtido em 2020, quando disputou com o tucano Bruno Covas o segundo turno. Além do PT, Boulos deverá ser apoiado por PC do B e, talvez, Rede, PV e PDT.

Já Tabata, em terceiro lugar com 11%, pode crescer usando o discurso de que é diferente dos favoritos e, assim, chegar ao segundo turno. Em entrevista à Folha em 24 de setembro, ela minimiza as importâncias de Lula e Bolsonaro e dirige críticas a Boulos e Nunes. Chamou o primeiro de radical e se colocou como "mais da vida real" e menos do "Twitter". Disse que Ricardo Nunes é menor que o cargo, recordando acusações "graves" que pesam sobre ele acerca de violência doméstica e corrupção, além de afirmar que o Orçamento da metrópole não é bem gerido.


Tabata, antes de formalizar sua candidatura, tem o desafio de formar alianças com partidos. Deixou o PDT de forma litigiosa e disputa com o atual prefeito o apoio do PSDB, o que vem causando fissuras incontornáveis na legenda tucana. O vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Márcio França (Empreendedorismo, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte), seus colegas de PSB, são seus incentivadores.

A possibilidade de Guilherme Boulos sair vencedor será maior caso enfrente Ricardo Nunes em segundo turno por reviver a polarização esquerda versus direita e contar com Lula como cabo eleitoral. Todavia, o momento do governo Lula em 2024 vai importar para o seu sucesso. A eleição de Haddad para a prefeitura, em 2012, deveu-se muito ao prestígio do líder petista. Para Nunes, o adversário mais palatável será Boulos. Mas o fato de ter se vinculado a Bolsonaro, com quem tirou fotos e pediu apoio, será o seu grande desafio.

Assim, Tabata Amaral torna-se extremamente competitiva contra ambos, mas precisa antes chegar ao segundo turno, não importa contra quem. Teria o apoio da esquerda para derrotar Nunes e os votos da direita para evitar a vitória de Boulos. A entrevista à Folha mostra que ela já afinou um discurso que dialoga com esses dois possíveis cenários.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.